sexta-feira, 2 de janeiro de 2009


Jaime Cimenti

Catedral vazia, 2008, 2009, Setembro negro & Barack Obama

Início da tarde, entre um compromisso e outro consigo uns minutos para entrar na Catedral Metropolitana. Beleeeeza, ela está vazia. Vazia ela fica ainda maior e mais silenciosa. Nada contra pessoas, religiosos, fiéis, missas, celebrações etc., mas um templo vazio e silencioso, só com a presença de velas, imagens e estátuas, sempre me fascinou mais.

Fecho os olhos, inspiro só pelo nariz e relaxo das agitações de final de ano. A respiração e os batimentos cardíacos ficam mais compassados, o tempo passa mais devagar. Estou simplesmente vivo. Posso ao menos tentar, por alguns minutos, ordenar pensamentos, ideias, sentimentos. Conseguir ordenar totalmente o caos de dentro e de fora é inviável, isso já sei faz muito.

Mas curtindo o silêncio, a solidão, o altar sem objetos e a atmosfera de eternidade da igreja dá para pensar um pouco em 2008, eleições, problemas e soluções nacionais, setembro negro global desesperançador, Barack Obama esperançado e esperançante e tal. Machado de Assis fez 168 anos em 2008. Comemoramos cem da pretensa morte dele.

Em 2009 podemos comemorar os 170 anos do nascimento do Bruxo, que disse que estamos no mundo, mas não somos do mundo. O Bruxo sentiu, pensou e escreveu muito. Dizem que nos momentos finais ele sentenciou: a vida é boa.

É isso, estamos no mundo, de passagem, mas não somos do mundo. No clima da Catedral Metropolitana vazia fico contemplando a pátina invisível do tempo pairando e pensando que nada é mais velho do que a novidade do jornal de ontem.

Uma crônica de final de ano não precisa, necessariamente, fazer retrospectivas do ano velho, nem lhe botar epitáfios e adjetivos. No Brasil, como se sabe, até o passado é imprevisível. Previsões provavelmente furadas para o novo ano são dispensáveis.

Deus deve estar aqui na Catedral, ou, ao menos, está no meu pensamento. Não pergunto, agora, se ele existe, de onde vim, quem sou e para onde vou. Agora, nesses minutos, fazer orações e estar respirando com calma é o bastante para mim. O que vou entender ou não, o que vou resolver ou não pode esperar um pouco.

Chovia lá fora, mas o sol que atravessa os vitrais nesse momento mostra que o mundo está sendo envernizado mais uma vez. De repente já é alguma preparação para 2009, ou simplesmente a natureza soprando a grande velha novidade: a vida continua. Melhor a gente achar que ela é da boa.

Jaime Cimenti

Aproveite o dia - Uma ótima sexta-feira e um excelente fim de semana

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