sexta-feira, 2 de janeiro de 2009



COMEÇO DE ANO

No Brasil, ao menos, o ano começa de três a dez vezes. Não é qualquer país que tem esse privilégio.

Na maioria dos nações, o ano começa no máximo duas vezes. Em alguns casos, três. Na China, por exemplo, dá para estimar em dois o número oficial de começos de ano, o do calendário ocidental e o do calendário chinês.

Em Israel também dá para falar em, no mínimo, dois, pois há o ano-novo judaico. Não é fácil saber exatamente quantos começos de ano tem cada país. O primeiro começo de ano no Brasil cai sempre no dia 1º de janeiro. É de uma precisão extraordinária.

Talvez seja a única coisa que jamais atrasa entre nós. Já o segundo começo acontece depois do feriado de 1º de janeiro. O problema é quando o 1º de janeiro cai num sábado ou num domingo. Aí, o segundo começo acontece mais cedo para decepção geral do povo.

Na verdade, esses dois começos são quase simbólicos na cultura brasileira. Todo mundo sabe que o 1º de janeiro marca mesmo é o fim do ano de trabalho. Começam de fato as férias. Cidades como Porto Alegre sofrem reduções demográficas impressionantes. Tramandaí salta de menos de 100 mil habitantes para em torno de 1 milhão.

Até São Paulo, não fossem as chuvas de verão, se tornaria habitável. O terceiro começo de ano brasileiro é o que vale. O ano começa realmente no Brasil depois do Carnaval. Isso não é novidade. Somos um dos poucos países do mundo a ter o ano começando em fevereiro ou até em março.

É isso que nos faz diferentes, mais flexíveis, mais legais e com um humor de fazer inveja aos desenvolvidos. Quem começa o ano muito cedo, seguindo o positivismo do calendário, termina mal. Melhor não ter pressa ou ir por partes. O calendário, afinal de contas, é uma convenção histórica. Não existe começo nem fim.

Tem muita gente que só considera o ano começado verdadeiramente depois da Páscoa. É o quarto começo. Outros, ainda mais calmos, entendem que o quinto começo, depois de 1º de maio, Dia de Trabalho, é o que vale. O Brasil tem dessas coisas.

Assim como tem lei que não pega, tem começo de ano que também não pega. Existem mesmo alguns radicais que festejam o começo do ano, o sexto desta lista, em 31 de julho. Para eles, obviamente, o ano começa em 1º de agosto, se não for sábado nem domingo. Viram como é difícil precisar o dia exato do começo de um ano?

Os defensores do começo em agosto alegam que aí, sim, não para mais até 31 de dezembro, salvo por uma breve interrupção na semana da Pátria. Nacionalistas reivindicam o 7 de Setembro, se não for sábado nem domingo, como o real começo do ano verde-amarelo (o sétimo). No Rio Grande do Sul, porém, a semana farroupilha complica um pouco essa definição cívica.

Certos gaúchos garantem que o ano termina para eles no início dos festejos farroupilhas. Outro ano, portanto, começa para esses gaudérios em 20 de setembro (oitavo). Já para certos escritores, editores e leitores, o ano termina ao final da Feira do Livro do Porto Alegre.

A mesma idéia têm alguns patriotas para quem o ano começa com o 15 de novembro (nono). O caso mais radical que pude identificar é o de um grupo de fabricantes de panetone.

Para eles, o ano começa em dezembro e termina no Natal. Fica, então, uma semana a descoberto. Ninguém se importa. Ou está de ressaca. É uma semana em que o tempo passa tão depressa ou tão livremente que nem dá para contar. Afinal, um ano já acabou e o outro ainda não começou.

juremir@correiodopovo.com.br

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