
11 de janeiro de 2009
N° 15845 - DAVID COIMBRA
O bom conselho
Havia um zagueiro na Dupla Gre-Nal que era o seguinte: ele tinha uma mulher loira. Não faz muito isso. Zagueirão. Viril e tudo mais. E tinha aquela mulher loira dele. Ninguém sabia da mulher dele, até que um dia ela apareceu no estádio. Uma loira voluptuosa de calça branca. Sabe como são essas loiras voluptuosas de calça branca.
Bem.
Ela chegou ao estádio e todo mundo ficou olhando. Os jogadores, no treino, comentavam sobre a loira. Olha lá, olha lá. O zagueiro não percebia.
Aí chegou a época da pré-temporada. Lá se foi o time Serra acima, o zagueirão junto. De repente, no treino da tarde, quem surge? Acertou: a loira. Em volta de seus quadris macios havia uma minissaia minúscula, e ela ondulava sobre saltos de 15 centímetros que lhe empinavam as panturrilhas, que por sua vez lhe empinavam as coxas, que então lhe empinavam as nádegas, que finalmente lhe empinavam a alma. Lá estava uma loira de alma empinada.
O coletivo foi abalado pela aparição da loira. O goleiro titular levou um frango e o atacante reserva que chutou nem viu. No fim do dia, o técnico foi procurar o zagueirão. Esse técnico, é preciso dizer, era um tipo que ouriçava as mulheres com seu charme de cinquentão experiente porém vigoroso. Pois o técnico, do alto de sua sabedoria de femeeiro, foi alertar o zagueirão:
– Meu filho – disse, paternal, passando o braço por cima dos ombros largos do jogador – a tua mulher é uma bela mulher.
– Obrigado, professor.
– De nada. Mas, olha, isso faz dela uma mulher cobiçada. – Ahn? – Desejada. Os outros homens gostariam de ter uma mulher assim.
– Quem? Quem??? – Ah... Muitos... Então, para te preservar e preservar ela, vou te dar um conselho.
– O que, professor? O quê???
– Olha: eu conheço uma pequena pousada perto daqui. Que tal hospedá-la lá, longe dos olhares dos outros jogadores? Assim, à noite, ela fica a salvo, não fica zanzando aqui pelo nosso hotel, e de dia ela pode vir te ver treinar e, nas folgas, tu podes visitá-la. Que tal?
– Oh, boa ideia, professor. Muito obrigado. Vou fazer isso. Muito obrigado mesmo!
– Pode deixar que a instalo na pousada, sem problemas.
O zagueiro se despediu do técnico quase que lhe beijando a mão em agradecimento. De fato, naquela noite mesmo, o prestativo técnico levou a loira para a pequena pousada. Voltou para a concentração e bateu no apartamento do zagueiro:
– Tudo certo. Pode ficar tranquilo. – Obrigado, professor. Muito obrigado. Muito, muito obrigado!
Despediram-se. Vinte minutos depois, o técnico estava outra vez na pousada. Bateu à porta do quarto da loira. Ela atendeu:
– Professor! Vestia uma camisola diáfana como o espírito das criancinhas. – Queria te dar alguns conselhos, minha cara.
– Claro, professor!
Ela escancarou a porta. Ele entrou. Só saiu no meio da manhã seguinte. Mas, tudo bem, naquela manhã, o treino era por conta do preparador físico.
As pré-temporadas na Serra bem que podem ser assim, aprazíveis para quem sabe aproveitar a vida.
Os conselheiros do Pretinho
O Pretinho Básico, da Atlântida, tem três conselheiros: o L. Potter e o Fetter, do Inter, e o Cagê, do Grêmio. Nesta sexta, o Potter e o Fetter comentavam sobre a (remota) possibilidade de o Guiñazu sair do Inter. Ergueram-se em indignação.
– Não troco o Guiñazu nem pelo Cristiano Ronaldo! – bradou o Potter, e o Fetter aplaudiu: – Isso mesmo!
Está resumido aí, no posicionamento de dois conselheiros inteligentes e ilustrados, o grande erro ideológico do futebol gaúcho: em defesa de um suposto e impalpável espírito guerreiro, o gaúcho esquece que o futebol não pode prescindir do talento.
Mais: o futebol não pode prescindir do gol. Nenhuma posição, nenhum treinador, nenhum dirigente é mais importante, no futebol, do que um centroavante fazedor de gol.
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