
10 de janeiro de 2009
N° 15844 - NILSON SOUZA
A dor do conhecimento
Atentação imposta à primeira mulher era mesmo irresistível: comer o fruto proibido e adquirir instantaneamente todo o conhecimento do mundo. Que vestibulando não fecharia esse contrato, mesmo que a proposta fosse feita por uma serpente?
Estudar dói, e dói mais ainda nestes tempos de múltiplos atrativos para crianças, adolescentes e jovens.
Parece crueldade obrigar alguém a ler um livro quando tudo o que pode conter nele está ao alcance de um clique. Para as atuais gerações – me convenci disso na semana passada, observando a movimentação num dos locais da prova da UFRGS –, o vestibular é uma verdadeira tortura.
Não era assim na minha época. Fiz dois concursos nesta mesma universidade e nunca cheguei a roer uma unha para conseguir vaga nas faculdades que escolhi. Também havia competição naquela época, mas bastava a gente se concentrar um pouco no estudo.
E quem diz que esse pessoal de hoje consegue se concentrar em alguma coisa? Não é culpa deles. A tecnologia é que se atravessou no caminho da garotada.
Primeiro foi a televisão, que capturou o tempo e a atenção de gerações inteiras. Tal era o seu poder hipnótico, que os bem-intencionados pensaram em transformá-la numa máquina de transmitir cultura e conhecimento de forma massiva. Isso nunca se confirmou.
Os telecursos até tiveram o seu momento, mas a maioria das pessoas queria mesmo era ver novela, futebol e besteirol na telinha.
Deu no que deu. A Favorita está aí para não me deixar mentir. Mas as novelas e os biguebroders são apenas sobreviventes da era televisiva. A divindade do momento é o computador, em suas múltiplas plataformas.
Os brinquedinhos eletrônicos diminuíram e se multiplicaram. Hoje, um celular armazena todas as informações do mundo, ou dá acesso aos locais onde elas se encontram comprimidas em microchips.
Quem precisa de conhecimento enciclopédico diante de tanta facilidade? Quem ainda recorre a enciclopédia? As referências são outras, aqueles livrões pesados perderam a importância cultural de que desfrutaram por muitas décadas.
Mas os vestibulares ainda cobram dos candidatos à universidade a memória e o raciocínio que os homens transferiram para as máquinas. Por isso, não é de espantar que os meninos e as meninas da era digital fiquem tão nervosos com a perspectiva de encarar uma prova de múltipla escolha.
Quem não aceitaria aquela maçã?
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