
08 de janeiro de 2009
N° 15842 - PAULO SANT’ANA
A fuga do tédio
Existem três estados de espírito que podem significar a mesma coisa: tristeza, tédio e aborrecimento.
Mas dou o direito à leitora, ao leitor, de traçar diferenças entre estes três estados de espírito.
Para mim, não têm diferença, foram palavras criadas para definir o mesmo sentimento dominante numa pessoa humana.
O tédio ou o aborrecimento ou a tristeza se caracterizam pelo desalento, pela mágoa, o desgosto, o nojo, o pesar.
Quem tem tédio ou aborrecimento ou tristeza está impedido de ser feliz. Embora possa ainda não se considerar infeliz.
A sensação que impede totalmente uma pessoa de ser feliz é outra: a depressão, também chamada de melancolia.
Neste caso, preteia o olho da gateada. Porque a pessoa tomada por melancolia ou depressão é dominada por uma sensação de incapacidade.
O depressivo ou melancólico revela uma total falta de interesse para viver, ou seja, a vida perde o sentido para ele.
Nada mais grave, até mesmo porque este estado pode levar a outros tipos de doenças mentais que induzem o paciente a pôr fim à sua vida.
Um tipo de depressão curiosíssimo é o da melancolia indefinida. A pessoa a tem mas não sabe por quê. É tão indefinida, que o paciente começa a arrolar todos os seus desfavores, na ânsia de identificar a causa da sua depressão, podendo assim talvez atribuí-la a algum deles.
Mas não, nenhum deles seria suficiente para prostrá-lo assim, de forma deplorável e sem solução.
A tristeza ou o tédio ou o aborrecimento não inviabilizam a vida de ninguém, tanto que não conheço nenhuma pessoa que nunca tenha sido atacada de tristeza ou tédio ou aborrecimento, que são intrínsecos à vida humana.
A chave dessa questão nos distúrbios emocionais ou psíquicos se chama esperança.
Sempre que Paulo está se afundando nas águas da depressão, Pablo de pronto mergulha e vai buscar para ele a boia da esperança.
É preciso, mais que preciso, é imprescindível manter a esperança. Buscar a esperança, fabricar a esperança se ela não existe.
É necessário criar um derivativo sempre que o perigo da depressão estiver a rondar o espírito. Seja lá a prática de um exercício físico, seja lá assistir a um espetáculo, a filmes, arranjar um cachorro para criar, procurar um amigo ou criar um amigo, formar uma roda de amigos para jogar cartas, planejar qualquer viagem, seguir uma religião, estes são apenas alguns exemplos da imensa gama de hipóteses que levam à busca da esperança e a exorcização da depressão.
O que não pode é perder-se a esperança.
O tédio é irmão gêmeo da rotina. A tristeza é irmã gêmea da mesmice.
Para sair deles e não se deixar arrastar para a depressão, na maioria das vezes é preciso a coragem de mudar.
Não existe nada mais difícil na vida do que mudar. Desde deixar de fumar (como é difícil) até sair de um casamento (mais difícil ainda).
Mas é preciso mudar, de endereço, de cidade, de hábitos, de pertences, de paisagem, de ideias, de princípios.
Tem que mudar. É quase impossível, depois que se teceu o emaranhado da vida da gente.
Mas tem que mudar. Alguma coisa diferente tem que ser feita. Não pode continuar assim.
A chave é mudar. Mas para isso é preciso ter um gesto. Nem que pareça louco.
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