ANTES DA EMERGÊNCIA HÍDRICA
O Rio Grande do Sul enfrenta a pior estiagem dos últimos 17 anos, segundo as autoridades que se reuniram nesta semana para adotar um plano de emergência capaz de atenuar o drama de mais de 5 mil famílias sem água até para o consumo humano e animal. No encontro da última segunda-feira, com a participação de técnicos da Defesa Civil, da Emater e das secretarias estaduais de Obras, da Agricultura, do Meio Ambiente e da Saúde, foi definido que o mais urgente é evitar que a escassez de água abrevie vidas - o que está absolutamente correto.
Para tanto, estão sendo encaminhados às regiões mais críticas máquinas de perfuração de poços e recursos para a construção de açudes e cisternas. Os gestores de mais de uma centena de municípios já decretaram emergência e, segundo levantamento da Emater, prejuízos irreversíveis na lavoura atingem mais de 6 mil localidades e um número superior a 138 mil propriedades rurais. A carência de chuva afeta plantações e pastagens, prejudicando um dos principais pilares da economia gaúcha, que é a produção agropecuária.
Nada disso é novidade nem surpreende autoridades e homens do campo. É verdade que neste ano o Estado enfrenta uma nefasta conjugação de fatores, que incluem altas temperaturas, insuficiente recarga hídrica nos meses de chuva do ano passado e o fenômeno La Niña, que torna mais escassas as precipitações na Região Sul. Ainda assim, o atual cenário foi amplamente previsto e descrito por meteorologistas e autoridades da área climática.
Por que o Rio Grande não se previne adequadamente para os recorrentes períodos de seca? Esta talvez seja a questão merecedora de maior reflexão por parte dos governantes, lideranças e produtores rurais. Certamente a falta de recursos será apontada como principal entrave para um plano preventivo, que inclua soluções de abastecimento e irrigação já conhecidas e utilizadas não apenas por países historicamente afetados por estiagens, mas também por Estados do semiárido brasileiro que enfrentam a seca crônica. Porém, quem não gasta na prevenção acaba tendo que pagar - mais, na maioria das vezes - pelo remédio.
Seria injusto, porém, simplesmente acusar os governos de incúria. A estiagem tem sido uma preocupação frequente de sucessivas administrações, todas elas responsáveis por projetos e programas voltados para o problema. Atualmente, por exemplo, está em vigor o programa Irriga + RS, sucessor do Mais Água, Mais Renda, que em uma década dobrou a área irrigada do Estado. O objetivo é apoiar projetos de irrigação e armazenamento de água com subvenções e assistência técnica.
Mas a emergência, mais uma vez, atropela as boas intenções e as burocracias oficiais, deixando evidente que as providências preventivas têm sido insuficientes e que a crise hídrica é uma pauta obrigatória para a campanha eleitoral que se aproxima. Uma pauta que não deve ficar restrita aos políticos: o desafio de preparar o Rio Grande para os recorrentes períodos de estiagem é de todos os setores da sociedade, pois quando o milho e a soja secam, as pastagens amarelam e o gado emagrece, também a economia definha.
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