segunda-feira, 1 de novembro de 2021


01 DE NOVEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

Sérios questionamentos de feriadão

Por que os hotéis prendem o lençol no colchão? É muito irritante. Você vai se deitar e, para não se sentir mumificado, tem de arrancar o lençol com os pés, empurrando-o com força para cima, até que o colchão o liberte. Só que às vezes a cama tem dois colchões e os lençóis são maiores. Aí as camareiras se dão ao inexplicável trabalho de enfiar o lençol entre os dois colchões, o que torna mais difícil a tarefa de soltá-lo. Você se esfalfa tanto, que perde o sono.

Todos os hotéis do mundo fazem isso. Todos. Quando estive no Japão e na Coreia, pensei: aqui, no Oriente Longínquo, esse hábito ainda não terá chegado. Qual o quê! Japoneses e coreanos também prendem o lençol no colchão.

Agora, o pior não é isso, chocado leitor. O pior é que a Marcinha prende o lençol no colchão! Dentro da minha própria casa! Ou seja: todas as noites eu sou obrigado a chutar o lençol para cima. Pergunto a ela:

- Por quê? Por quê???

Ela não sabe me responder. É mais forte do que ela, ela não consegue arrumar uma cama sem prender o lençol no colchão.

Talvez a Marcinha tenha adquirido esse costume em suas viagens. Notava que o hotel prendia o lençol no colchão e pensava: se a camareira do hotel faz isso, deve ser o correto.

Não é.

Por Deus que não é.

Aí é que está: as viagens iludem a gente. É por essa razão que, quando você quer dizer que outra pessoa está fora da realidade, você diz:

- Ih! Está viajando...

Ou seja: a ideia da viagem é essa mesmo, tirá-lo da sua vida comezinha e colocá-lo num mundo que não é seu. Por 15 dias, você se sente morador de Paris ou Nova York, você veste sobretudos, come queijo depois da sobremesa, visita museus e bibliotecas. Você é fino. No entanto, quando as férias terminam, você se lembra que não é de Paris nem de Nova York, você é do Partenon. E não me venha você, que também é do Partenon, reclamar que seu bairro é maravilhoso. Pode ser, mas não é Paris nem Nova York (o IAPI é).

Aliás, essa história de dizer que o outro está viajando começou de fato com a expressão "viajando na maionese". Que, para mim, é indecifrável. Por que uma pessoa com ideias irreais "viaja na maionese"? Será que a maionese estava estragada, ela ficou doente e agora está tendo delírios? Ou ela escorregou na maionese derramada e foi aterrissar num lugar inóspito? Se foi isso, caberia dizer: "Não adianta chorar sobre a maionese derramada".

Enfim, estou cheio de questionamentos fulcrais neste feriadão. Farei outros, nos dias que virão. Ajude-me, sábio leitor.

DAVID COIMBRA 

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