03 DE JULHO DE 2021
MONJA COEN
MEMÓRIAS ANCESTRAIS
O que é a mente humana? Você já parou para investigar como funciona a sua mente? É uma investigação interior, profunda, sutil, íntima.
Ensinamentos antigos afirmam que temos muitos níveis de consciência, que inclusive incluem o Inconsciente Coletivo ensinado e explicado por Carl Gustav Jung. Por exemplo, cada um dos nossos órgãos dos sentidos tem a sua consciência correspondente - logo cinco consciências, gerenciadas por uma sexta consciência.
Além dessas seis, há outras três: uma delas, a sétima, leva as informações que entram pelas cinco consciências e organizadas pela sexta até uma grande memória, chamada a oitava consciência. Esta é como um grande armazém de tudo que já passamos, bem como toda nossa ancestralidade. Temos memórias de medo, de repulsa, de atração, relacionadas a passado tão remoto que nem saberíamos explicar por que nos comportamos de determinadas maneiras. Talvez seja semelhante ao Inconsciente Coletivo de Jung, onde o inconsciente individual também atua anexando novas memórias e respondendo às situações atuais a partir de memórias anteriores. A sétima consciência, além de levar as informações das seis consciências para a grande memória, é quem traz informações que nos levam a responder ao mundo.
Na oitava consciência, carregamos a memória da espécie humana, com lutas, conquistas, sucessos e fracassos. Tudo nos habita e nos influencia. E há também a nona consciência, que talvez Jung chamasse de Self, que o Zen chama do nosso "Eu Verdadeiro" ou "Natureza Buda". Acessar essa natureza desperta, iluminada, de grande pureza, amorosidade, sabedoria, compaixão, ternura e harmonia é o Caminho Zen.
Há um sistema complexo que determina nossos julgamentos, sentimentos, atrações e aversões. Como perceber e nos libertar? Zazen é um dos portais. Para nós, o portal principal. A entrada da frente. Algumas pessoas chegam ao portal e não adentram. É preciso coragem e determinação. Vamos enfrentar nossos medos internos, nossas insuficiências, nossa sombra. Entretanto, lembre-se, se há sombra é por haver luz. Procuremos por essa luz. Esforço, determinação, resiliência, ética, entrega, doação, paciência, meditação e sabedoria são elementos necessários. E o não-medo.
Hoje há grupos de estudo sobre Consciência Sistêmica, uma prática, um estudo, uma meditação, uma terapia e uma forma de nos libertarmos do carma prejudicial desde o passado mais distante - para nos tornarmos mais leves, suaves, amorosos, compassivos e sábios. Carregamos nas células memórias belas e terríveis, quer como vítimas, quer como vitimadores. Reconhecê-las é nosso dever. Compreender as causas e condições do passado distante que ficou impresso na oitava consciência - esta que, como as outras, é tanto coletiva quando individual.
Quando acessamos essas memórias, podemos nos arrepender de faltas cometidas pelo nosso grupo e compreender até mesmo os abusos sofridos por nossos ancestrais, sem manter rancores, tristezas, raivas, vinganças. Sem repetir vícios, aversões e apegos. É possível voltar para o agora infinito, onde todo passado e todo futuro gira e se manifesta.
É nosso direito fazer escolhas. Estas podem ser diferentes da de nossos ancestrais. Cabe a nós abrir caminhos de encontro amoroso, de respeito terno, de compreensão clara, de solidariedade, de resgate e de restauração da tessitura social.
Mãos em prece
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