02 DE JULHO DE 2021
OPINIÃO DA RBS
DESEMPREGO ESTRUTURAL
Crises não são novidade no Brasil. Há, ao longo da história do país, diversos momentos de turbulência e queda da atividade econômica, com forte impacto no emprego. Mas a atribulação agora atravessada pelo Brasil tem um reflexo inédito no mercado de trabalho, não apenas pelo número recorde de pessoas que buscam colocação e não encontram, mas pela elevada quantidade de brasileiros que estão há muito tempo nessa condição. São 14,7 milhões de cidadãos atrás de um sustento para si e para sua família e, destes, cerca de 3,5 milhões estão nessa batalha há pelo menos dois anos, sem sucesso.
O desemprego no trimestre encerrado em abril, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou em 14,7%. Estável em relação à divulgação anterior. É positivo, ao menos, que a escalada da falta de trabalho tenha sido interrompida. Foi um problema agravado pela pandemia, que, neste momento, parece começar a ser estancado. Mas é preciso lembrar que, há uma década, o país vivia o pleno emprego e, a partir de 2014, a taxa dobrou, mostrando o grau de degradação da economia, causada por sucessivas conflagrações políticas que acabaram abalando a confiança dos agentes da economia, dos consumidores aos empresários.
O noticiário do dia a dia mostra que o país está longe de um momento tranquilo. Espera-se que a estabilidade, pela via democrática, seja alcançada a partir das eleições de 2022, visando a um período mais longo que não apenas recupere as perdas dos últimos anos, mas permita ao Brasil crescer, de fato, acompanhando o mundo. No curto prazo, cria-se a expectativa de que o avanço da vacinação permita um retorno de mais atividades, abrindo mais vagas, especialmente nos serviços.
Mas é preciso ser realista. Um dos reflexos da pandemia foi um ganho brutal de produtividade das empresas, que buscaram fazer mais com menos. Assim, torna-se mais difícil recuperar celeremente os níveis de emprego observados no início da década passada. Ao mesmo tempo, o controle da epidemia vai significar mais pessoas voltando a procurar trabalho, pressionando a taxa de desemprego. Esta, aliás, poder ser a explicação para o fato de o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) continuar registrando resultado líquido positivo de vagas com carteira assinada, enquanto o desemprego não cede. Com os resultados de maio, o país soma 1,2 milhão de postos abertos e, o Estado, 82,1 mil.
Não há passe de mágica ou bala de prata. Mesmo que o PIB do país cresça 5% neste ano, será apenas uma recuperação do recuo do ano passado. E o avanço da economia, até agora, está mais ligado ao mercado externo do que à situação doméstica e ao consumo das famílias. Crescem mais os setores intensivos em capital e não em mão de obra. Há muitos trabalhadores desempregados por um longo período que estão desatualizados em relação às exigências atuais do mercado, principalmente em questões ligadas à tecnologia e à transformação de modelos de negócio. Há receio, portanto, de que o desemprego brasileiro seja estrutural.
A estas pessoas será preciso, de alguma forma, oferecer programas de qualificação, para que fiquem aptas a buscar uma vaga. Assim como será imprescindível uma atenção especial à educação, após os graves prejuí- zos ao aprendizado legados pelas escolas fechadas ao longo da crise sanitária. Ao lado das reformas estruturais que melhorem o ambiente de negócios e assegurem sustentabilidade fiscal, é de conciliação que o país precisa para voltar ao trilho do progresso e da conquista de um crescimento que beneficie todos os brasileiros.
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