quarta-feira, 3 de março de 2021


03 DE MARÇO DE 2021
CAPA

Frank e Kassin juntos na distância

Gravado em Porto Alegre e no Rio durante a pandemia, o disco "Nunca Fomos Tão Lindos" une rock, brega e eletrônico

De um lado, um monumento vivo do rock gaúcho. Integrante de bandas como Os Cascavelletes, Cowboys Espirituais, Tenente Cascavel, Graforréia Xilarmônica e ainda com sua própria carreira autoral. Do outro, um produtor renomado, que trabalhou com Los Hermanos, Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso, entre outros - também com projetos em seu currículo como Acabou La Tequila, +2, Orquestra Imperial e sua trajetória solo. Pois os dois nomes se uniram: Frank Jorge e Kassin formam um duo no disco Nunca Fomos tão Lindos, que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira.

O álbum é patrocinado pela Natura Musical por meio da Lei de Incentivo à Cultura do RS. Frank Jorge assina a composição das 13 faixas, enquanto Kassin é o responsável pela produção musical.

Os dois são amigos desde os anos 1990, quando eram colegas no selo Excelente, de Carlos Eduardo Miranda - Frank com a Graforréia, enquanto Kassin integrava a banda carioca Acabou La Tequila. Ao longo dos anos, a dupla foi maturando a ideia de produzir um disco. Até que surgiu o edital da Natura.

A ideia era que o álbum fosse trabalhado com os dois juntos em estúdio, mas a pandemia atrapalhou os planos. Gravado ao longo de 2020, o projeto foi realizado remotamente - Frank em Porto Alegre, Kassin no Rio. Nunca Fomos tão Lindos foi desenvolvido por meio de videochamadas. Enquanto Frank gravava voz, guitarra, violão e baixo, Kassin trazia suas batidas, erguendo paredes de som com bateria eletrônica e baixo synth.

O disco ganhou outra cara a distância, criando espaços para a dupla trabalhar mais as suas ideias.

- A pandemia mudou o projeto, mas acho que foi para melhor - atesta Kassin. - Em vez do Frank vir ao Rio e matar o disco em uma semana, o álbum acabou sendo supertrabalhado, elaborando mais os elementos que a gente queria trazer, a escolha do repertório.

Nunca Fomos tão Lindos traria música popular brasileira misturada com rock. Porém, Kassin propôs que a dupla fosse para outra direção:

- Tive uma vontade de promover uma quebra da coisa sessentista/setentista que o Frank tem.

Frank completa:

- Ele tentou justamente correr para outras direções do que seria previsível fazer nas músicas, que tinham um formato, uma atmosfera de canções jovem-guardistas. Esse é um pouco meu métier, algo que componho quase involuntariamente.

Com letras trazendo reflexões bem-humoradas e boa dose da ironia característica de Frank, é possível ouvir diferentes sonoridades em Nunca Fomos tão Lindos: brasilidades, disco music, synth pop, rock, samba-jazz, música brega e tecnobrega.

- Trata-se de um resultado muito raro, um disco que tem uma sonoridade muito sua, a partir do volume de referências que a gente carrega - afirma Frank.

Beleza

O Que Vou Postar Aqui foi o primeiro single do álbum, com clipe produzido a distância, dirigido por Vinicius Angeli. Com beats eletrônicos e vocais finais à Beach Boys, a faixa critica a necessidade de ficar gerando conteúdo constante nas redes sociais.

- Não chega a ser uma crítica à sociedade, mas sim um comentário. Talvez até uma crítica a mim mesmo sobre como é a minha atuação nas mídias digitais sociais - explica Frank. - Gosto de falar sobre isso: a pessoa e a sua interação social, de que maneira ela evidencia a sua interpretação do que acontece no mundo.

Já o segundo single, Tô Negativado, apresenta influência direta dos ritmos do Pará, como carimbó e tecnobrega. Aqui, a dupla apresenta uma faixa romântica sobre encontros e desencontros. Um clipe de Tô Negativado está nos planos do duo, mas ainda sem previsão de lançamento.

Entre as 13 faixas, há também a curiosa Complicado Jeito de Amar, inspirada nas baladas sertanejas radiofônicas. Segundo Frank, soa como "um tecnopop dos Eurythmics dos anos 1980".

Acompanhando o lançamento de Nunca Fomos tão Lindos, um curta-documentário será disponibilizado no canal do YouTube da dupla. O registro aborda o processo de criação do disco e a relação de Frank e Kassin com a música.

Os dois realizariam apresentações após o lançamento. Porém, o presente é impeditivo. Segundo Frank, uma live está prevista para o dia 12 de março, em que ele tocará o disco, trazendo uma interação com Kassin. O plano da dupla é se reunir para tocar o álbum quando for viável.

Frank explica que o título do trabalho vem de uma piada interna. Lembra que já teve um blog chamado Feios para Sempre, cujo título e temática permaneceram em sua mente.

- Tem aquele filme baseado no conto do João Gilberto Noll chamado Nunca Fomos tão Felizes. Daí me ocorreu isso, Nunca Fomos tão Lindos (risos). Eu e o Kassin já temos muito tempo de trabalho musical. A beleza do cara tá justamente nisso de seguir tocando a vida, fazendo nossas coisas, independentemente de serem valorizadas ou não. Sempre brincamos com o esdrúxulo e o esquisito, o que segue sendo algo bacana e gostamos de fazer.

WILLIAM MANSQUE

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