02 DE MARÇO DE 2021
NILSON SOUZA
Quando a escola vai ao aluno
Conversei na semana passada com a diretora de uma escola pública da Capital que não abandonou os seus alunos durante a pandemia. Nem um. E não são poucos: 1.174. Todos, sem exceção, receberam os conteúdos de suas respectivas séries - ou por ensino remoto, ou por material impresso recolhido pelos pais na escola, ou (para a parcela dos desalentados, sem acesso à tecnologia e sem ânimo para estudar) pela busca ativa.
- Formamos uma força-tarefa para correr atrás desses alunos e fomos nas suas casas levar material, cobrar tarefas e conversar com as famílias - conta a professora Susana Silva de Souza, que dirige a Escola Estadual de Educação Básica Gomes Carneiro há seis anos.
Nada foi fácil. No início, poucos professores estavam preparados para o trabalho online. Alguns, conta a diretora, tinham verdadeiras crises de ansiedade para lidar com o computador ou com o celular. Mas aprenderam, com a ajuda de colegas mais familiarizados com o mundo digital ou mesmo dos próprios alunos. O colégio mapeou os estudantes sem acesso à internet e convocou pais e responsáveis para recolher material impresso na escola. Restou o grupo de maior risco de evasão, formado por desconectados e desinteressados.
- Fomos nas suas casas e, em algumas, ficamos esperando até o pai ou a mãe chegar do trabalho, para convencê-los de que era importante manter o vínculo com a escola.
A Gomes Carneiro não fechou, nem nos piores momentos da pandemia. A determinação do grupo diretivo formado pela diretora, três vice-diretores, duas orientadoras e uma supervisora contagiou os demais professores. Todos (64 no total) se envolveram de alguma forma com a missão de levar a escola aos alunos isolados pela pandemia.
Deu muito certo.
A escola da Vila Ipiranga, na zona norte de Porto Alegre, concentrou a busca ativa no último grupo de alunos que ameaçava desistir, resgatou cada um deles para as aulas de recuperação em janeiro e chegou ao final do primeiro ano da pandemia com 100% de aprovação. Embora tenha sido um ano de promoções automáticas, esses alunos receberam atenção, mantiveram o vínculo com a escola e a perspectiva de um futuro digno.
O Brasil tem jeito, sim!
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