terça-feira, 2 de fevereiro de 2021


02 DE FEVEREIRO DE 2021
NÍLSON SOUZA

Os mapas do Brasil

Olho o mapa do país como quem examinasse a anatomia de um corpo. De muitos corpos. Os vivos, os mortos e também os muito vivos, que mesmo em meio à nossa crise de medo e desgoverno continuam se achando mais espertos do que os demais.

- A esperteza, quando é muita, come o dono - avisou o sempre lembrado e nunca empossado Tancredo Neves.

Mas eles não estão nem aí: o treinador agarra a bola para retardar o jogo e impedir o adversário de atacar seu time, a autoridade fura a fila da vacina, o ministro prefere o charlatanismo à ciência, o homem do povo faz gato de água, luz e auxílio emergencial. Às vezes parece que a Lei de Gerson - pobre Gerson, que nunca criou lei nenhuma e acaba de completar 80 anos ainda com essa carga nas costas - é a primeira emenda da nossa Constituição.

Compreende-se: somos 212 milhões de pessoas neste país continental, entre brasileiros, venezuelanos, haitianos, colombianos e tantos outros hermanos que no los puedo contar. Numa multidão dessas, é previsível que alguns queiram levar vantagem em tudo e não se importem com o próximo, principalmente quando esse próximo não está tão próximo quanto filhos e apadrinhados.

Porém, querendo ou não os negacionistas, a pandemia está nos aproximando como nação. O Amazonas é logo ali, as dores do Norte são as mesmas do Sul, não há distância nem divisas para o vírus e suas incontáveis variantes. Se não nos ajudarmos, pereceremos todos.

Nunca vimos tantos mapas coloridos do Brasil na mídia como agora. Da previsão do tempo à vacinação, passando pelo contágio e pela contagem de vítimas, tudo tem sido cartograficamente mostrado naquele desenho inconfundível do gigante deitado em berço esplêndido que todos aprendemos a amar. Cinco regiões, 27 unidades federativas e cores que se alternam, expressando nossas apreensões e esperanças. Falta-nos, talvez, um mapa dos que rejeitam peremptoriamente o jeitinho e a trapaça.

Haverá de vir. Por enquanto, pelo menos a meninada sem aula deve estar aprendendo alguma coisa de geografia.

NÍLSON SOUZA

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