
Uma safra desafiadora
Pelo calendário oficial do Ministério da Agricultura, os produtores gaúchos estão autorizados desde ontem a iniciar o plantio da safra de soja 2025/2026. Será um ciclo repleto de desafios no Rio Grande do Sul, a começar pelas dificuldades ocasionadas pelo alto endividamento no campo. Diante desse cenário, traz alívio a informação que veio a público na quarta-feira de que enfim saiu a circular do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre a operacionalização do crédito de R$ 12 bilhões destinado à renegociação dos compromissos de anos anteriores não honrados devido à sequência de estiagens e perdas da produção.
Espera-se, portanto, que em breve cada produtor elegível à renegociação consiga acessar a repactuação e volte a ter fôlego e condições de tomar novos financiamentos para a formação adequada das lavouras da cultura de maior peso econômico do Rio Grande do Sul. Ainda assim, será uma safra marcada por incertezas e dificuldades a serem contornadas.
A questão climática, transtorno que foi mais regra do que exceção nesta década, permanece como um fator de insegurança. Os prognósticos indicam a possibilidade do retorno do La Niña. O fenômeno, como se sabe, é associado à falta de chuva no Rio Grande do Sul e costuma levar à perda do potencial de lavouras de sequeiro, como soja e milho.
A descapitalização dos produtores e as dificuldades de acesso a crédito pela sucessão de safras frustradas, por outro lado, podem levar a um menor emprego de tecnologia nas áreas, o que tende a afetar o rendimento das culturas. Reportagem veiculada no RBS Notícias de terça-feira mostrou que agricultores gaúchos, diante do aperto financeiro, estão projetando formar lavouras com menos fertilizantes do que seria indicado.
O quadro se agrava com a alta dos preços dos fertilizantes, combinada com as cotações da soja bem abaixo das máximas experimentadas nos últimos anos. O preço da saca de 60 quilos no Estado está em torno de R$ 120. Em 2022, o valor chegou a bater nos R$ 200. A relação de troca entre o produto que colhem e os insumos, portanto, não está favorável aos agricultores.
Tantas adversidades levaram a uma situação inusitada na safra 2025/2026. O Estado vai interromper uma sequência de quase duas décadas de ampliação de área destinada à soja e plantará uma extensão menor em relação ao último ciclo. Conforme dados da Emater, a retração será de 0,8%. Ínfima, mas simbólica. Ainda assim, caso o tempo colabore, o volume colhido poderia chegar a 21,4 milhões de toneladas, ante 13,6 milhões na última safra, outra vez afetada por uma forte estiagem.
É fácil notar que os plantadores de soja no Rio Grande do Sul terão meses desafiadores pela frente - e essenciais para o início da recuperação financeira após vários anos colhendo frustração e dívidas. Resta cobrar que a renegociação chegue rapidamente na ponta e, assim, permita um plantio sem atropelos. E esperar que o clima, desta vez, colabore. É com o resultado da produção e o fruto do seu suor, afinal, que produtores esperam se reerguer, honrar seus compromissos e ajudar a alavancar a economia do Estado.
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