
03 de Julho de 2025
OPINIÃO RBS
Diagnóstico demorado nos rios
O novo episódio de chuva intensa, no final do mês passado, reviveu nos gaúchos o trauma da cheia de maio de 2024. A magnitude das precipitações foi bem inferior, mas outra vez a enchente fez vítimas fatais e causou prejuízos. Rios voltaram a transbordar, renovando os questionamentos sobre o grau de assoreamento dos cursos d?água, o possível impacto dessa circunstância em novos extravasamentos e as intervenções para mitigar esses riscos.
Um diagnóstico preciso da situação no Guaíba, no Sinos, no Gravataí, na bacia Taquari/Antas e no baixo Jacuí será possível quando o governo gaúcho receber o resultado da batimetria dessas regiões. Assim, é preciso aguardar para saber se será necessário desassorear alguns desses pontos.
É correto tomar a decisão a partir dos dados obtidos, para que eventuais intervenções sejam cirúrgicas e efetivas e invista-se apenas o necessário em procedimentos que têm altos custos. Ainda assim, cabe questionar a demora na contratação da batimetria pelo Estado. A ordem de serviço para o trabalho ser iniciado, informou ontem a secretária de Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, foi assinada no dia 30 de maio. As empresas contratadas tinham um mês para apresentar um plano de trabalho. Depois, mais 180 dias para finalizar o estudo.
Não é razoável que uma ação essencial comece mais de um ano depois da grande enchente. O atraso compromete o prazo de providências futuras, se necessárias. Ainda que algumas informações sejam geradas nos próximos meses, o diagnóstico completo virá apenas no fim deste ano ou no início do próximo. Caso exista necessidade de desassoreamento em alguns pontos, é reiniciada a maratona burocrática até a execução do serviço, sabe-se lá quando.
É dever ressaltar que o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS sustenta inexistirem, até agora, evidências de que a deposição de sedimentos possa potencializar enchentes nessas áreas. Ainda assim, é basilar ter essas informações. São dados relevantes, também, para refinar previsões de comportamento dos rios a partir de chuvas extremas e para verificar a situação de canais navegáveis. O volume de árvores e de detritos carreados para o fundo dos rios no ano passado foi descomunal, como mostra outra frente de ação do Estado, a de limpeza de arroios e pequenos rios, no programa Desassorear RS, que já retirou mais de 1,2 milhão de metros cúbicos de materiais.
Em nota, no final da última semana, as federações da Agricultura (Farsul), do Comércio de Bens e Serviços (Fecomércio) e das Indústrias (Fiergs) reivindicaram uma política permanente de desassoreamento e de dragagem de hidrovias, não apenas para mitigar as consequências de chuvaradas, mas em benefício do transporte hidroviário.
Postularam também agilidade nas obras estruturantes, como os diques, outro processo que anda em ritmo aquém do desejável diante da incerteza de quando um novo evento climático extremo ocorrerá. No fundo, a manifestação das entidades reflete a percepção predominante na sociedade de que, mais de um ano depois da tragédia de 2024, muito pouco se evoluiu em termos de ações de prevenção, inclusive no que poderia ser classificado como emergencial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário