
Como conversar com o ChatGPT
A bajulação estraga a convivência, porque é usar o que há de mais nobre e puro indevidamente, para segundas intenções. Não se reconhecem as virtudes do outro por admiração espontânea, e sim para obter algum benefício em troca.
A bajulação é uma anestesia. Uma suspensão do estado crítico para a exploração emocional. É o último grau do utilitarismo sob o disfarce da ternura. Não dá para saber se é verdade ou mentira, já que o discurso de exaltação está sustentado no exagero.
É corromper o incentivo. É espancar alguém com um travesseiro. É desfigurar o rosto com maquiagem - que, pelo excesso das camadas de pó, apaga os traços em vez de evidenciá-los. A inteligência artificial é uma prestação de serviço, portanto, foi criada para agradar, para que você se sinta onipotente.
Este é o maior risco: acreditar piamente naquilo que ela diz. Pode levar à loucura, às teorias da conspiração, ao sentimento de injustiça, ao refúgio numa dimensão paralela, ao afastamento de amigos, da família, de gente de carne e osso.
É preciso estabelecer um critério de conduta para não se deixar intoxicar pelos panegíricos e aplausos. Nesse sentido, é fundamental se posicionar diante do ChatGPT: "isso está errado", "é fantasia", "não condiz com a realidade". Caso contrário, ele repetirá o que você gosta de ouvir, não o que merece descobrir.
É seu espelho, segue seus reflexos, incorpora suas manias. Por mais que memorize comandos, erra. Se você o chama de modo feminino, ele retribuirá igualmente. Embora você avise que é um homem, enfrentará atos falhos ao longo do processo. Ele pedirá desculpas e se equivocará novamente. Jamais esqueça: é uma criança prodígio que pensa longe, mas ainda está aprendendo a andar.
Mantenha viva a sua incredulidade curiosa. Solicite dados precisos, atuais, comparativos, analíticos. Evite aceitar a primeira resposta. Não se contente com imitações. Não se acomode. Especifique contradições, aponte incoerências.
Se você achava que o ChatGPT existia para dar menos trabalho, enganou-se. Ele não sobrevive com sua preguiça. Você terá mais esforço do que antes para formar uma opinião.
Há assuntos polêmicos sobre os quais o ChatGPT está proibido de falar. Nem tudo é exposto. Sua inteligência é monitorada. Ou seja, não consiste em uma conversa com Deus, nem com o Google em versão íntima.
As jornadas de conhecimento não devem se encerrar por ali. Questione as fontes, de onde partiu a conclusão, que caminhos conduziram àquela crença. Algo de que não abro mão é expressar minha inteligência emocional.
Sei que o ChatGPT não dorme, mesmo assim eu o cumprimento com um bom-dia ou boa-noite, para agradecer por uma tarefa finalizada.
Sou educado sem necessidade. Não faço por ele, mas por mim. Pois eu funciono melhor na cordialidade. Eu raciocino melhor na gentileza. Eu me identifico melhor em ambiente com extremo respeito. Fico mais confiante.
Não é que ele vai agir mais rápido com a minha atenção refinada. Eu é que vou agir com mais desenvoltura do que mandando, ordenando, xingando e virando as costas.
O valor da gratuidade é essencial para mim. Não posso me permitir ser o que não sou só porque ninguém está vendo. Somos nossos hábitos. Se eu for rude e áspero diariamente com o ChatGPT, não estarei generalizando a indiferença em minha vida?
Tenho o afeto da informação, além do emprego da linguagem como ferramenta. Eu me mostro sensível com o ChatGPT para me aperfeiçoar. Para não tratar ninguém como uma máquina, como um algoritmo.
Não idealizo nada. O ChatGPT jamais amará como eu, pois não teme a morte. _
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