terça-feira, 1 de agosto de 2023


01 DE AGOSTO DE 2023
CARPINEJAR

Carta a Enner Valencia

Enner Valencia, você deve ter andado pelas imediações do Beira-Rio e visto que há máscaras com seu rosto e bandeiras do Equador nos varais dos ambulantes. Estão, a cada dia que passa, caindo de preço.

Os colorados tinham enorme expectativa de sua consagração por aqui. Enquanto você não vinha, contávamos os pontos: "temos que aguentar até o Valencia chegar em julho".

Você chegou: foram dois empates, duas derrotas.

Já estamos com medo de que você não seja você, de que recebemos um falso profeta, não aquele messias dos vídeos do YouTube, da camiseta do Fenerbahçe.

Prepara-se para a sua quinta partida e ainda não desencantou. Ainda não mostrou ser aquele matador sagaz, de fintas desconcertantes, de raciocínio rápido, guepardo na arrancada, goleador da sua seleção na Copa do Mundo, um dos maiores artilheiros da Europa na última temporada.

Parece um jogador bom, mas normal, sem ritmo, sem entrosamento com os seus colegas. Parece até lento no contra-ataque, distraído no domínio, desligado da linha de impedimento. Há algo errado? A família está feliz, adaptada? Queremos que esteja bem.

Entendo que não deve ser fácil trabalhar com dois treinadores em menos de um mês de atividade. A substituição do comando técnico deve ter gerado insegurança. Saiu um esquema, entrou outro. Mas logo vai se acostumar com as loucuras do clube. Somos passionais.

Eu sei que tampouco tem culpa da nossa descabida esperança. É que não queremos um centroavante mediano ou competente. Ansiamos por um ídolo. Ansiamos por uma colheitadeira na pequena área, um trator em cima dos zagueiros, a fartura da bola na rede.

Enner, está ficando complicado defendê-lo. Você não fez nenhum gol entre nós. Nenhum gol gaúcho. Só houve uma cabeçada para fora no fiasco em casa contra o Cuiabá.

Pode dar um sinal?

Nem temos noção do jeito como comemora seus gols: com dancinha, ou soco no ar, ou com os dois braços levantados, ou correndo para abraçar Coudet e seus colegas, ou pulando as placas de publicidade para se juntar à torcida.

Deixe-me explicar, temos um problema. Na Arena existe Luis Suárez, lenda do Uruguai, amigo de Messi, com o selo de qualidade do Barcelona, que estreou estraçalhando, criando uma Suárezmania em Porto Alegre. Ele fez 16 gols e realizou nove assistências em 33 jogos com a 9 do Grêmio. Arrebanhou 47 mil novos sócios. Promoveu a venda de 16 mil camisas.

A comparação é inevitável. Você é a nossa estrela internacional, veio preencher a lacuna de grande reforço para calar a oposição gremista.

Você não tem nada a ver com isso, mas nossos olhos estão fadigados de miragens e enganos. Toda derrota do Inter não é mais uma simples derrota, é uma derrota carregando o fardo de sete anos sem títulos.

Lembre-se do que você representa hoje. Lembre-se de nossa recepção entusiasmada no aeroporto Salgado Filho, de como lotamos o ginásio Gigantinho em sua apresentação oficial. Lembre-se de nossa ansiedade para vê-lo em campo. Lembre-se do quanto gritamos seu nome no estádio. Lembre-se de que nossos filhos estão vestindo o seu nome e seu número 13 nas costas. Lembre-se de que o Inter é o maior time de sua carreira, de que é uma oportunidade também para você.

Não dá para acreditar que o futebol da Turquia é tão fraco. Por favor, prove-nos o contrário hoje contra o campeão argentino. Que ponha o River a temer. Nossa temporada depende da campanha na Libertadores. Nem precisa ser um hat-trick, um tento é suficiente. Apenas para voltarmos a sonhar e sentir o gostinho da ilusão novamente.

CARPINEJAR

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