05 de fevereiro de 2014
| N° 17695
ARTIGOS - José Carlos Riccardi
Guimarães*
Governo constrange a Brigada
Os interesses que se digladiam no
entorno do processo de greve envolvendo os rodoviários em Porto Alegre são,
indubitavelmente, legítimos sob o viés do que avoca como seu direito cada parte
representada. E esse panorama se estabeleceria no limiar da normalidade, não
fosse um distinto envolvido, muitas vezes esquecido: o cidadão porto-alegrense.
Desde a diarista que não pode
chegar ao seu local de trabalho e deixa de ganhar o dinheiro do dia para levar
o pão à mesa de seus filhos à noite, passando pelo enfermo que, além da
inevitável espera na fila do SUS, ainda tem que aguardar na fila do ônibus clandestino,
chegando ao comerciante e ao empresário que deixam de movimentar a economia da
Capital.
Por si só, essa é uma pequena
amostra dos fatores que contribuem para um evidente cenário de perturbação da
ordem pública. Somem-se a isso as depredações, pichações e inutilizações dos
veículos de transporte público, impedidos de sair das garagens, assim como o
impedimento de motoristas que se dispõem a guiar os 30% a 70% dos veículos,
conforme impôs a Justiça.
Evidentemente que somente por
essas singelas razões já se imaginaria qualquer tipo de atua-ção da Brigada
Militar, que, nos seus 176 anos de existência, se estabeleceu sob a imagem da
coragem, da proação, do pronto atendimento ao clamor da sociedade, da dedicação
à promoção do fiel cumprimento às leis... Porém, uma nuvem espessa e escura
desce no horizonte e turva a esperança gaúcha, pois os valores consolidados
dessa exuberante instituição são postos à dúvida, já que se percebe uma
anomalia que frustra a expectativa do povo gaúcho, este no anseio de uma
resposta ao clamor popular porto-alegrense, no caso específico da greve dos
rodoviários.
Parece que essa força pública,
aliás, a “Força da Comunidade”, está de costas viradas ao pandemônio que se
apresenta. E, ainda pior, com o manifesto consentimento dos dirigentes da
Secretaria de Segurança Pública, que sequer procuram negar ser essa medida a
orientação do comandante em chefe da Brigada Militar, o senhor governador do
Estado. Sob o pífio argumento da espera pela ordem judicial que nunca chega ou
do crime que não se consuma, esquecendo esses dirigentes da vasta gama de
medidas que podem ser desenvolvidas na esfera administrativa.
Nesse diapasão, talvez quando o
pior se instituir, aí, e somente aí, veremos o verdadeiro movimento
profissional da Brigada Militar. O que é muito triste, pois normalmente nesse
caso as perdas são irreparáveis.
*TENENTE-CORONEL,
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS DA BRIGADA MILITAR
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