terça-feira, 7 de fevereiro de 2012



07 de fevereiro de 2012 | N° 16972
DAVID COIMBRA


O pai primevo

Freud defendia a tese do pai primevo.

O pai primevo existiu, obviamente, em épocas primevas, antes inclusive da pré-história, num tempo em que os homens caçavam e coletavam, vivendo a alegre e despreocupada vida nômade, em que não existia trabalho e ninguém era de ninguém. Nesse tempo, os grupos humanos eram pequenos, algumas poucas dezenas de integrantes, talvez menos. Entre esses, havia um macho poderoso e dominador.

O pai primevo.

Esse líder “usava” sexualmente, por assim dizer, todas as mulheres do bando, inclusive filhas e irmãs, sem discriminação. O que é bastante lógico. Afinal, qual é a razão do interdito universal do incesto? Por que o chamado sexo endogâmico é proibido? Alguém pode citar as possíveis distorções genéticas causadas pela continuada reprodução interfamiliar, mas nossos ancestrais decerto não possuíam esse conhecimento científico. Então, o pai primevo reservava a si as mulheres todas e, para impedir a concorrência dos filhos adultos, ele, não raro, os castrava. O que, convenhamos, é desagradável.

Chegou um dia, porém, em que o pai primevo já não detinha a força de outrora. Ele envelheceu e perdeu a velha energia. E aconteceu de os filhos se revoltarem. Eles se uniram, mataram o pai primevo e o devoraram cru.

Nesse parricídio primordial está a origem de diversas neuroses humanas. E também de diversos costumes de difícil explicação. Porque o pai primevo, como todos os pais, exercia um papel dúbio no espírito dos filhos. Assim como era temido, era admirado. Assim como era evitado, era imitado.

Vem deste período imemorial as seguintes heranças psicológicas:

1. A proibição do incesto, que seria uma renovação da aliança dos filhos rebeldes;

2. A rejeição ao canibalismo, numa autocensura pelo fim que coube ao pai original;

3. Até mesmo a exigência da circuncisão adotada por diversos povos, que seria uma lembrança da castração impingida pelo pai primevo aos filhos. No caso dos hebreus, a circuncisão, um evidente símbolo da castração, seria uma recuperada sujeição ao pai. Ou a Deus.

Tudo isso diz muito sobre a forma como a figura do pai age na cabeça das pessoas. Não é por acaso que, com o advento da Civilização, a deusa-mãe foi derrubada e em seu lugar foi posto um deus-pai.

Deus é pai, diz a tradição popular. E é. Um pai amoroso e severo, que pune e recompensa, que tudo vê e tudo julga, mas que, ao mesmo tempo e contraditoriamente, tudo permite ao chamado livre-arbítrio humano, o que o exime de um tanto de responsabilidade por todo o mal que existe debaixo do sol.

A autoridade tem que incorporar essas características, ou não será uma autoridade. Um técnico de futebol é uma autoridade – não é em vão que os jogadores o chamam de professor. Os professores fazem o papel dos pais. Os jogadores pedem isso: um pai. Não exatamente autoritário, mas que tenha autoridade. Um técnico sem autoridade está em função deslocada. Sem autoridade ele não tem força, e sem força corre o risco de, como o técnico primevo, ser devorado cru.

O que deixa o Gre-Nal

O Gre-Nal é um jogo de consequências, mais do que de causas. No clássico de domingo passado, por razões evidentes, muito mais consequências para o Grêmio.

Para o Inter, o Gre-Nal trouxe a confirmação da excelência de Muriel, um dos melhores em campo, autor de pelo menos quatro defesas de Manga. Também mostrou o enérgico Fabrício, que está pronto para ser o lateral-esquerdo titular. E a bela estreia de Dátolo, um canhoto agressivo, que gosta de chutar em gol, e é sempre interessante ter no time quem chute a gol.

Para o Grêmio, nem tudo foi tão ruim como o resultado deu a entender. Victor parece que voltou a ser o grande Victor. Foi seguro e deu segurança à defesa. Não teve a menor culpa nos gols e essa bobagem de ter levado mais um gol de argentino é conversa de torcedor.

Os laterais são, está provado, um trunfo do time, e é sempre bom lembrar que se abre um jogo pelas laterais.

Fernando é um dos melhores volantes do país, e agora se habilita a chutar falta. Um dia desses vai para a Seleção.

Além do ataque de qualidade – Pelaipe acertou em cheio nas contratações de Kléber e Moreno.

Não é muito, é meio time, mas um treinador competente sabe construir algo concreto começando pela metade.

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