domingo, 25 de abril de 2010


ELIANE CANTANHÊDE

O nosso Eyjafjallajoekull

BRASÍLIA - Lula deu aquele sorriso encantador de serpentes, e Ciro Gomes manteve a candidatura a presidente e trocou o domicílio eleitoral do Ceará, onde foi governador e prefeito da capital, para São Paulo, onde não é nada. O PSB blefou, estimulando seu sonho presidencial enquanto negociava suas boquinhas com Lula e o PT nos Estados. E o PT e o eleitor paulista não lhe deram legenda nem opção.

Mas o grande vilão do complô contra Ciro foi... Ciro. Política é a arte de somar, articular, manipular, e ele só divide, confronta, se isola.

Depois de anos inativo no Ministério da Integração e na Câmara, nosso vulcão Eyjafjallajoekull entrou em erupção. Era questão de tempo.

Sua coleção de lavas é espetacular. Não mais aquelas de 2002, contra mulheres, radialistas, repórteres, mas a atual. Ele passou anos xingando a suposta arrogância de São Paulo, mas transferiu o título para lá. Chamou Serra de "figura detestável", e agora diz que o tucano "é mais preparado, mais legítimo, mais capaz" do que Dilma. Foi fiel amiguinho de Lula todos esses anos, mas acha que o presidente "está navegando na maionese".

Sem disputar a Presidência nem o governo de São Paulo (o PT não deixou, e Mercadante vai hoje para o sacrifício), será que Ciro vai ter a pachorra de disputar a reeleição para a Câmara?!

Vejamos o que ele disse sobre seu mandato: "Nunca mais vou ser deputado na vida. Não tenho mais paciência de passar nove horas conversando fiado e não fazendo nada pela vida de ninguém". Se for para a reeleição, estará naturalmente se candidatando a não fazer nada.

O importante, porém, é avaliar o efeito Eyjafjallajoekull na eleição, como todos estão fazendo. O PSB fica mais livre para acordos estaduais. PT e o PSDB avaliam perdas e ganhos e como atrair os 10% de eleitores que estão soltos no ar. Quanto a Ciro? A erupção logo perde a graça e passa. Os voos de Serra e Dilma continuam normalíssimos.

elianec@uol.com.br

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