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quinta-feira, 8 de abril de 2010
08 de abril de 2010 | N° 16299
RICARDO SILVESTRIN
A luz do som
Yamandu Costa e uma turma de bambas do violão me deram a dica: escuta Villa-Lobos, Radamés Gnatalli e Ernesto Nazareth. Foi no programa Sarau, do Chico Pinheiro, no canal Globonews. Então, entrei no YouTube.
Achei um músico fazendo uma apresentação numa escola. Ele tocou, durante uma hora e meia, todas as peças que o Villa-Lobos compôs para violão. Os estudos, os prelúdios, as suítes, os choros.
A filmagem mostra o violonista de frente, focando bem a mão esquerda, a do braço do violão, onde são feitos os acordes. Chama atenção a alternância rápida entre as duas extremidades do braço.
De repente, notas solitárias, passagens lentas, e volta subitamente a tensão provocada pela velocidade com o que o contraste entre sons graves e agudos se faz. Villa-Lobos sempre tem uma música com uma grande pulsação. Mesmo nas mais leves, algo pulsa forte.
Escutei e vi ainda suas obras compostas para orquestra. Nas Bachianas Brasileiras, ele arrasa. A de número 2 é a mais conhecida, aquela do trenzinho do caipira. Tem uma apresentação no YouTube com a Orquestra Nacional de Lyon. Execução perfeita.
E a de número 5 também é bastante popular. Tem uma melodia lindíssima que andou por trilhas de filmes. Quando toca, a gente percebe que sempre esteve guardada no nosso inconsciente e na nossa alma.
Radamés Gnatalli, o grande músico gaúcho que foi para o Rio de Janeiro e lá virou referência para toda uma geração, aparece num programa comandado por Tom Jobim. Tom tinha Radamés entre seus mestres. Quem está filmando é Nelson Pereira dos Santos, o cineasta de sucessos como Vidas Secas. Só gente da melhor qualidade. Radamés toca uma do Ernesto Nazareth.
Na mesma tela do YouTube, vem outro vídeo em que o maestro Franciso Mignone está ao piano. Ele conta que conheceu Nazareth no início do século 20, numa loja de música. O trabalho do Nazareth era tocar as músicas que estavam nas partituras que as pessoas iam comprar.
Mignone disse para o genial compositor que sabia suas músicas e executou uma, sendo corrigido pelo autor quanto ao andamento, erro que todos cometiam, acelerando muito e não revelando todo o balanço da composição. Gingado que Arthur Moreira Lima transmite muito bem em outro vídeo em que apresenta Nazareth.
Como cantou Luiz Melodia, “tá tudo solto na plataforma do ar, tá tudo aí”. A internet não revela apenas o novo. Também coloca à nossa disposição pérolas que estariam guardadas numa estante, num arquivo consumido por dois ou três iluminados.
Tem aquele papo místico que, na era de aquários, a nossa, não haverá um mestre, e sim, uma iluminação coletiva. Peguei a luz com Yamandu e passo pra vocês. Passem adiante.
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