quinta-feira, 22 de abril de 2010



22 de abril de 2010 | N° 16313
PAULO SANT’ANA


O médico

O Guerrinha, nosso companheiro aqui da RBS como comentarista esportivo, conta que é uma tortura ir ao médico para cuidar da sua saúde. Ele fica diante do médico esperando pelo pior:

– O senhor fuma?

– Fumo.

– O senhor caminha?

– Não caminho.

– Já temos duas desvantagens. Por que o senhor não caminha?

– Porque tenho um carro.

– Mas tem de caminhar.

– Doutor, o senhor já passou ali na Avenida Ipiranga? O senhor, passando por ali, vai ver milhares de carros, em fila, nas duas pistas. Se eu for caminhar, vou chegar atrasado em todos os lugares a que tenho de ir. Todos aqueles carros vão passar na minha frente e eu vou chegar atrasado aos meus compromissos.

– Mas o senhor vai ter de caminhar nas horas vagas.

– Eu não tenho horas vagas.

– Eu vi aqui o exame da sua pressão arterial. Está tudo bem. Mas eu vou lhe encaminhar para o cardiologista.

– Mas se o senhor está dizendo que está tudo bem, para que me encaminhar para o cardiologista?

Então o Guerrinha se dirige até o cardiologista:

– Estou vendo aqui seus exames, parece que está tudo bem. Mas vou lhe encaminhar para uma esteira.

– Mas se está tudo bem, por que o senhor quer me encaminhar para uma esteira?

– É preciso verificar tudo.

– Mas, se está tudo bem e continuam procedendo a exames, está na cara que daqui a pouco vão encontrar alguma coisa.

– Mas esta é a nossa obrigação, checar tudo para que não reste nenhuma dúvida.

E assim vai o Guerrinha na romaria dos exames, tenso à espera dos resultados.

Com o Lauro Quadros dá-se diferente: ele é que solicita os exames periodicamente. No mínimo, de 30 em 30 dias comparece ao consultório do Dr. Sarmento Barata, o urologista proverbial de tantas gerações.

E o Lauro Quadros se submete paciente e dócil ao exame de toque retal do Dr. Barata. O Lauro ouviu dizer que todo homem, algum dia, depois dos 50 anos, terá câncer de próstata. Então, vai aos exames para perscrutar se chegou a sua vez.

O doutor Sarmento Barata diz ao Lauro que não há nada com a sua próstata. Mas dali a 30 dias o Lauro vai lá de novo para submeter-se ao dedo piedoso do Dr. Barata.

Não contente com isso, o Lauro marca todos os meses consulta com o proctologista.

De novo, o Lauro naquela posição incômoda, submetendo-se ao dedo e aos exames do proctologista João Mussnich.

Não deram nada os exames, mas o Lauro não descansa dentro dos 30 próximos dias.

Ele tem a convicção de que um dia o exame dará positivo.

E, assim, tantos outros pacientes, eu entre milhares. Nos últimos anos, me submeti a incontáveis biópsias, vou lá tirar o material, algumas colheitas são cruciantes, passam-se torturantes e aflitivos cinco dias à espera do resultado, que afinal é negativo. Enquanto isso, não se dorme à noite.

E isso me faz pensar que os pacientes sofrem tanto quando os resultados são positivos quanto quando são negativos.

Ir ao médico causa tanta apreensão quanto ir ao mecânico: se examinar bem, alguma coisa vai aparecer.

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