segunda-feira, 19 de abril de 2010



19 de abril de 2010
N° 16310


APAGÃO AÉREO

Europa angustia o mundoAo gerar só ontem mais de 63 mil cancelamentos de voos, o caos aéreo produzido pelas cinzas de um vulcão na Islândia disseminou aflições pelos aeroportos europeus, mas também entre moradores de todos os contingentes com planos de viajar para a Europa ou lá fazer escala

O atendente de uma companhia aérea brasileira em Paris não escondia o constrangimento provocado pela incerteza ao ser questionado sobre a remarcação de uma passagem para o Brasil.

– Estamos esperando que o aeroporto abra amanhã (hoje). Mas não temos informação oficial, senhor – disse.

Embora tenham sido reativados aeroportos de países como França e Alemanha (a previsão, para hoje, era de que metade dos voos voltaria a operar), a paralisia chegou ontem ao seu auge, atingindo passageiros do mundo inteiro, inclusive gaúchos que partiam ou voltavam.

A Agência Europeia para a Segurança na Navegação Aérea (Eurocontrol) estimou que, apenas ontem, mais de 20 mil dos 24 mil voos previstos na região seriam impedidos de decolar devido às emissões do vulcão. Os aviões permaneceram no chão em 20 países, como Holanda, Grã-Bretanha, Suécia e Suíça, e em outros quatro o fechamento do espaço aéreo foi parcial – França, Alemanha, Espanha e Itália.

Em termos econômicos, o vulcão também fez seus estragos: na sexta-feira, as ações da British Airways caíram 3%, as da irlandesa Ryanair, 2,3%, da Lufthansa, 4%, e da Air France-KLM 3,4%. A economia do continente terá prejuízo de 1 bilhão de euros.

Na imprensa francesa, as notícias eram desoladoras. Os aeroportos Charles de Gaulle e Orly, de Paris, onde está a reportagem de Zero Hora, devem permanecer fechados até pelo menos a terça-feira pela manhã, segundo as autoridades.

As perspectivas mudavam a toda hora, mas sempre para pior. Nem a informação de que Air France, KLM e Lufthansa haviam feito testes de voo com sucesso retirou os avisos de “cancelado” dos painéis dos aeroportos. Se a abertura dos aeroportos de Nice e Marselha, no sul da França, sugeria melhora na situação de quem tenta voar, no meio da tarde a previsão incluiu mais um dia no bloqueio que causa prejuízos calculados em US$ 200 milhões diários para as companhias aéreas.

A conta não inclui, é claro, os gastos em transporte, comunicação e alimentação dos passageiros de castigo por causa das cinzas do vulcão islandês.

Cerca de 150 mil franceses e 200 mil britânicos estão retidos fora do país, calculam os governos dos dois países. “A nuvem” não poderia ter vindo em hora pior para quem mora na Europa.

Após um inverno rigoroso, o fim de semana trouxe temperaturas amenas e retirou as pessoas de casa com roupas leves, lotando praças e parques.

Com a chegada da primavera e o início de férias escolares na França, muita gente pretendia viajar, o que fez aumentar a procura por passagens de trem – para piorar, os funcionários das ferrovias estão em greve parcial.

Sem saída pelo ar nem opções viáveis por terra – os trens estão lotados por vários dias para os principais destinos na Europa –, muitos passageiros têm de escolher entre estender férias em uma das cidades mais caras do mundo ou esperar sentados no aeroporto de Paris pela reabertura do espaço aéreo.

Quem se decidiu pela primeira opção, caminhou sob um quente sol de primavera e viveu em ironia: o pior fim de semana da história do transporte aéreo europeu foi causado por uma nuvem de cinzas que só aparece para os pilotos. Para os passageiros que olham o céu azul, o inimigo é invisível.

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