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sábado, 17 de abril de 2010
17 de abril de 2010 | N° 16308
NILSON SOUZA
Herança genética
A menina dos meus olhos retorna da escola comentando uma curiosa prova a que foi submetida sua turma de adolescentes. A tarefa era comentar, por escrito, o resultado de uma enquete mais ou menos nos seguintes termos: Se você pudesse escolher as características de seu filho, daria prioridade à inteligência, à beleza, ao porte físico ou deixaria a critério da natureza?
Segundo o texto, mais de 50% dos entrevistados responderam que não fariam escolhas, um percentual alto apontou a inteligência como característica desejada e – felizmente – poucos optaram pela beleza e pelo porte físico.
Não sei o que os jovens comentaram sobre as respostas, suponho que devem ter ido no mesmo rumo dos adultos pesquisados. Mas o exercício me pareceu oportuno. Colocou a meninada diante de um dilema que há muito deixou de ser fictício. Em alguns países, clínicas de manipulação genética já oferecem aos pais a possibilidade de escolher, por exemplo, a cor dos olhos ou dos cabelos de seus futuros bebês. Num futuro bem próximo, é possível que muitos daqueles adolescentes tenham mesmo que tomar suas próprias decisões a respeito do assunto.
Gostei de constatar que a escola da minha afilhada está trabalhando temas éticos com os alunos. Se me coubesse acrescentar mais uma questão a respeito do assunto, teria aproveitado para propor à menina e a seus colegas o seguinte: Se seus pais pudessem escolher, você acha que o filho seria você? Acho que faria a garotada refletir um bocado.
Este tema da escolha prévia das características dos filhos me faz lembrar uma história protagonizada pelo escritor irlandês George Bernard Shaw, conhecido por sua genialidade e também por sua feiúra. Dizem que certa vez, durante uma festa chique, ele foi importunado por uma espevitada socialite da época, que era muito bonita mas de poucas luzes, com a seguinte sugestão:
– Já pensou se a gente casasse e tivesse um filho com a minha beleza e a sua inteligência?
Ao que o inspirado dramaturgo respondeu de pronto:
– Não acho sensato, minha senhora. Já pensou se ele nascesse com a minha beleza e a sua inteligência?
A anedota tem o seu lado sério. Mesmo com o mapeamento genético do ser humano, ninguém jamais terá total certeza de que os filhos sairão de acordo com o planejado, até mesmo porque a personalidade se forma a partir do nascimento e é influenciada por fatores como o ambiente doméstico, as oportunidades e o exemplo dos pais.
E para os bebês não há escolha.
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