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sexta-feira, 23 de abril de 2010
23 de abril de 2010 | N° 16314
PAULO SANT’ANA
Pequena Porto Alegre
Dá para acreditar que há 50 anos havia um bonde que circulava somente no Centro?
Pois havia. Era o bonde Duque, quase sempre gaiola, isto é, menor e sacolejante.
Ele transportava pessoas para seus destinos, mas grande parte dos passageiros adorava andar de bonde somente para passear.
Havia também o bonde Gasômetro, também circular, vinha pela Venâncio Aires, entrava na Osvaldo Aranha na direção do Centro, desaparecia lá pela Sete de Setembro e ia até o Gasômetro, onde existia a Casa de Correção.
O Duque e o Gasômetro eram duas linhas intestinas, as outras todas se dirigiam aos arrabaldes.
O bonde lotava mesmo quando se dirigia aos arrabaldes mais populosos. Os bondes lotados faziam a festa dos batedores de carteira, os únicos tipos de delinquentes que se notabilizavam. Não havia assaltantes, não havia roubos de carros, a cidade era tranquila e serena, todos trabalhavam para se recolher aos lares à noite e ouvir as novelas de rádio e escassas edições do Repórter Esso, muito mais especializado em notícias nacionais e internacionais. Não havendo crimes nem acidentes, o noticiário local era escasso.
Porto Alegre era então uma cidade provinciana.
Agora me lembrei de uma outra linha curta, era o República, que fazia a rua do mesmo nome, na Cidade Baixa, e ia até o Centro.
Depois tinha o Partenon, o Teresópolis, o Floresta, o Glória, o Independência, o Petrópolis, o Navegantes, o Menino Deus.
Engraçado é que, por ser a cidade pequena, havia o Partenon até a Rua Portuguesa, outro até a Luís de Camões. O Teresópolis até a Pedreira era o único que transcendia o fim da linha.
Petrópolis até João Abott, Petrópolis até Ivo Corseuil, Glória até Rua Nunes, a malha de bondes cobria por inteiro a superfície da cidade e isso fazia inexistir qualquer problema de transporte. Em menos de cinco minutos, um bonde sucedia ao outro e os passageiros ficavam satisfeitos com o serviço.
Foi um grande erro terem extinto os bondes. O que deveriam ter feito era alastrar as linhas e transformar os bondes em trens.
Isso não foi feito porque naquele tempo Viamão era como se fosse Uruguaiana, Gravataí era como se fosse Santa Maria, Guaíba era como se fosse Pelotas. Para nós, aqui da Capital, eram distantes municípios. Não havia, portanto, passageiros que sustentassem linha de trem até essas cidades.
Foi o erro: a substituição dos bondes pelos ônibus. Hoje é essa parafernália angustiante do transporte coletivo, os ônibus atravancando a cidade e os passageiros dos coletivos competindo com os carros em engarrafamentos.
Foi um erro extinguirem os bondes. Tanto sob o ponto de vista do transporte quanto da poesia. O pitoresco dos bondes enfeitava a cidade.
Em cinco, no máximo 10 minutos, chegava-se ao destino, os bondes varavam o Centro sem se constituírem em qualquer obstáculo para o trânsito.
Não havia incerteza. Em qualquer turno, era bater e valer, bastava se dirigir para a parada de bondes que em seguida um elétrico nos apanhava e nos largava lá onde nos bem aprouvesse.
Parecia que tínhamos tido sorte em nascer aqui em Porto Alegre. Depois, a cidade foi crescendo, foi se expadindo, criaram a figura da Grande Porto Alegre e hoje nos atordoamos.
Eu gostava mais da Pequena Porto Alegre.
Do sonho e do paraíso dos bondes.
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