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quinta-feira, 29 de abril de 2010
29 de abril de 2010 | N° 16320
LETICIA WIERZCHOWSKI
Cada um no seu quadrado
Maria Adelaide Amaral, roteirista de minisséries por excelência, vai escrever a próxima novela das sete, um remake de Ti-ti-ti (novela que lembro como uma das mais divertidas da minha adolescência noveleira). Numa recente entrevista, Maria Adelaide deixou claro que entrava no mundo das novelas “para justificar o seu salário”, já que a época das grandes minisséries se acabou.
Segundo a própria, não dá para ganhar o que ela ganha escrevendo fugazes séries de cinco capítulos. E a Globo não quer mais séries longas para não misturá-las com o Big Brother e confundir o público do seu campeão de audiência.
Eu não gosto e não assisto ao Big Brother, e o fascínio que o programa exerce na imensa maioria da população me parece estarrecedor. Ah, a falta que faz uma janela onde acompanhar de perto a vida alheia... Mas o fato é que o Big Brother é a vida real na televisão. Nunca antes, gente de verdade, com suas dúvidas mundanas, seus amores, seus ódios, seus risos, seus sonhos, vilanias e mesquinhezas esteve à mercê dos olhos alheios como nos episódios do Big Brother.
O sucesso do programa – mesmo que a mim ele pareça a coisa mais tola que alguém pode fazer com a sua noite – vem daí: apelar ao voyeurismo do telespectador. Porém, do que se deriva o declínio da audiência nas novelas e minisséries da Globo? É fato que a ficção está na tela dos nossos televisores há muito tempo.
E agora vem perdendo para a vida real. A resposta, a meu ver, seria a intromissão dessa mesma vida real na teia da ficção. Porque hoje os autores de novelas, pobres coitados, escrevem seus capítulos acorrentados ao Ibope. Nos tempos das grandes novelas da Globo, quando as tramas de Janete Clair paravam o Brasil (o país realmente parou no famoso episódio de O Astro, quando Janete Clair desvelou o mistério sobre a morte de Salomão Hayala e alcançou míticos 100 pontos de audiência) as tramas seguiam unicamente os volteios da alma da própria autora.
Enfim, creio que devemos deixar a ficção ser tudo aquilo que ela realmente é: matéria inventada, feita de sonhos, superior às mesquinhas realidades do Ibope, esse emburrecedor da dramaturgia televisiva. O povo escolhe o vencedor do próximo Big Brother, e deixa-se outra vez o destino da mocinha da novela aos cuidados do próprio autor.
Falando de sonhos e de ficção, eu recomendo a incrível experiência do Quidam, espetáculo que a trupe do Cirque du Soleil apresenta desde a semana passada aqui em Porto Alegre. Puro deslumbramento.
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