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terça-feira, 13 de abril de 2010
13 de abril de 2010 | N° 1630
PAULO SANT’ANA
E a opinião da mãe?
Eu me meto em cada encrenca filosófica, sempre que enveredo em dar opinião sobre assunto polêmico.
Foi assim quando, ontem, analisando o comportamento da Igreja Católica, diante de dois casos de estupro sobre menores de nove e 10 anos de idade, assumi a opinião de ser favorável ao aborto quando o feto foi concebido por estupro, fato acolhido pela lei brasileira.
Choveram sobre minha mesa contrariedades de leitores, que podem ser resumidas na posição do padre Roque Antônio Soares Machado, do Seminário Maior de Viamão.
Diz-me o padre Roque que, quando acontece um estupro, a criança concebida através dessa terrível violência é também vítima, igual à mãe.
Diz ele que, se eliminarmos a criança (o feto), estamos sendo tão violentos quanto o agressor, praticamos violência contra um inocente indefeso que foi também vítima, como sua mãe. E que são duas as vítimas. Com o aborto, a criança é vitimada duas vezes.
Acrescenta-me o padre que o feto não tem culpa da violência que fizeram contra sua mãe, ele não é um pedaço do agressor.
E pergunta o padre: por que descarregar na criança, também vítima, toda a raiva que devia ser destinada ao estuprador? Por que punir com a morte o inocente que não tem culpa? Não seria mais correto e justo punir o estuprador e não a criança, que não pediu para ser fruto de uma violência? Não seria mais justo e sensato, pensa o padre Roque, deixar a criança nascer e depois doá-la a uma instituição ou uma família que queira adotá-la?
Diz o padre que a pobrezinha da criança não tem culpa, é certo que ela não tem culpa como é certo que a mãe sofre, dói ser vítima de tamanha injustiça, é compreensível que ela não queira ficar com a criança. Porém, não se conserta um erro cometendo outro tão violento quanto o primeiro.
E finaliza o padre dizendo que só quer ajudar na reflexão.
O padre ajudou muito na minha reflexão e na dos leitores, mas a série de perguntas que me lançou tem um defeito: jamais o padre levou em conta que estamos falando de aborto ocasionado por estupro com decisão da mãe estuprada.
Como não levar em conta a opinião mais importante e transcendental do drama, a da mãe estuprada?
No meu entender, acho que também no entender da lei brasileira, a única opinião que tem de ser levada em conta e ser considerada decisiva é a da mãe estuprada.
É muito fácil considerar que é injusto o aborto originado por estupro sem importar-se com o que pensa disso tudo a mãe estuprada.
É ela que não quer que viva o ser que foi gerado na relação espúria. Concluo então minha opinião de que, se a mãe deseja o aborto, o aborto lhe deve ser concedido.
Diz o padre que a criança tem de ser doada a um asilo ou a alguma família. Mas não indagou o padre se a mãe permite ética e moralmente que nasça seu filho e seja criado no asilo ou por uma família. A mãe concorda com isso ou quer o aborto? Essa é que é a grande questão.
E, para arrematar, um argumento-nocaute: e se a mãe não concorda com o aborto e permite que a criança nasça. Isso não equivale a dizer que absurdamente não se envergonha do estupro, que perdoa o estuprador?
Melhor então, se essa hipótese impensável acontecesse, seria que ela procurasse o estuprador, o perdoasse, e fossem os dois criar a criança juntos.
O problema, como diz o colega Moisés Mendes, é que, se nascesse a criança, todo olhar que sua mãe fosse lançar sobre ela, durante toda a vida, seria dilaceradamente trágico.
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