quinta-feira, 8 de abril de 2010



08 de abril de 2010 | N° 16299
PAULO SANT’ANA


Guerra à pizza

Tudo o que é bom faz mal. Cigarro é bom, mas faz mal. Não bebo, mas deve ser bom beber uma caipirinha, um uísque, uma cervejinha. Mas faz mal.

E agora se descobriu que comer faz mal, a julgar pelo cerco severo que nos EUA se começa a fazer para mudar os hábitos alimentares da população e pressionar a indústria alimentícia.

A indústria alimentícia começa a ser tratada como a indústria do tabaco, com medidas restritivas.

O objetivo é mudar hábitos alimentares e reduzir a obesidade.

Não é para menos, 25% dos norte-americanos são obesos. E 36,5% dos norte-americanos estão acima do peso.

O total de americanos com problemas de peso cresceu quase 10 pontos percentuais na última década.

Em algumas minorias, como a das mulheres negras, a situação é ainda mais grave: cerca de 40% das negras são obesas, o que resulta no aumento dos casos de diabetes e problemas cardíacos, entre outros.

O risco pode ser ainda maior no próximos anos, como alertou Michelle Obama ao lançar sua campanha contra a obesidade infantil.

Uma em cada três crianças americanas é obesa ou está acima do peso.

A esposa do presidente incentiva a que os pais procurem alimentos saudáveis para seus filhos e os estimulem a praticar exercícios.

Em uma imagem que ficou clássica, a primeira-dama aparece ao lado de suas duas filhas plantando verduras e legumes em uma horta no jardim da Casa Branca.

A guerra é contra a gordura, contra o açúcar e contra o sal. E para que esses ingredientes sejam substituídos por nutrientes.

O chef britânico Jamie Oliver se mudou para Huntington, na Virgínia Ocidental, onde tentará revolucionar a forma como comem os habitantes da cidade com maior índice de obesidade nos EUA.

E lá viu imagens chocantes e tem fracassado em seus intentos. Alguns estudantes nunca usaram faca, toda a alimentação é baseada em alimentos processados.

Além disso, os alunos comem pizza no café da manhã e não conseguem reconhecer uma batata crua, definindo como “batata” apenas a frita.

Estima-se para os próximos meses a edição de muitas leis que vão proibir a indústria alimentícia de usar sal, gorduras e açúcar em seus produtos.

A guerra está começando como começou anos atrás a guerra vitoriosa contra o cigarro.

Imagino que nas embalagens de alimentos serão colocadas imagens chocantes de pessoas doentes que adquiriram suas moléstias ao comer gorduras, açúcar e sal, como acontece hoje com as carteiras de cigarros.

E que os consumidores de açúcar, gordura e sal sejam desprezados no meio social e considerados marginais, como os fumantes.

É possível até que os gordos sejam proibidos de frequentar certos ambientes, como se faz com os fumantes.

E até que, nos ambientes fechados, como nas empresas e repartições públicas, em comparação com os fumódromos, só seja permitido o consumo de alimentos com gorduras, açúcar e sal em lanchódromos, onde os consumidores ficarão expostos por vidraças à desafeição e até rejeição das pessoas normais.

São os tempos. Nós, fumantes, vamos ter a oportunidade de nos vingar de muitos gordos e acima do peso que nos têm perseguido implacavelmente nos últimos anos.

Nenhum comentário: