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sábado, 24 de abril de 2010
24 de abril de 2010 | N° 16315
NILSON SOUZA
A lição do dinossauro
Sempre é bom prestar atenção no que diz um homem de 78 anos.
Se este homem é Gay Talese, monstro sagrado do jornalismo, incensado repórter do New York Times e autor de livros obrigatórios como O Reino e o Poder, Aos Olhos da Multidão e Vida de Escritor, tudo o que sai de sua boca merece contemplação e reflexão.
Acabo de ler uma entrevista que ele concedeu ao suplemento cultural do jornal Brasil Econômico, gravada pelo correspondente Luiz Henrique Ligabue em situação de constrangimento, pois o entrevistado não poupou críticas a jornalistas que usam gravador. Mas o recurso me permite reproduzir o que li com menor risco de cometer qualquer imprecisão.
– O problema de ser jornalista – ensina Talese – é que você não pode passar tempo suficiente com as pessoas e logo precisa escrever algo, publicar no dia seguinte, para depois jogarem no lixo no outro dia.
Então, ele conta que sempre quis escrever de modo que as pessoas sentissem vontade de guardar as matérias para ler 10, 20 anos depois.
– Os escritores morrem e seus trabalhos ficam vivos. Pensei, por que o jornalismo não pode ficar vivo anos depois de ter sido escrito?
Então, Talese enveredou pelo New Journalism, estilo que usa técnicas literárias para contar histórias reais. Às vezes, parece mesmo ficção. Ele chega a descrever monólogos internos de seus personagens, reproduzindo seus pensamentos, mas sem apelar para a imaginação. Em vez disso, ouve exaustivamente o entrevistado até extrair dele o que estava pensando no momento que deseja retratar.
Ou não ouve.
Um de seus textos mais célebres, “Frank Sinatra está resfriado”, desenha um antológico perfil do cantor a partir do cancelamento de uma entrevista anteriormente marcada. Em vez de desistir da reportagem, Talese foi em frente, observou muito, ouviu mais de cem pessoas que gravitavam em torno do artista, inclusive uma assessora que carregava suas 60 perucas numa mochila. Só por aí já se pode ter ideia da verdadeira obra de arte que ele construiu.
Os dinossauros, como sabem os paleontólogos, têm muito a nos ensinar, ainda que jamais tenhamos cruzado com eles no planeta. Talvez Talese esteja defendendo um modo ultrapassado de fazer jornalismo. Nestes tempos de comunicação em 140 caracteres, um texto mais literário vai sempre parecer ficção. Mas o mestre norte-americano não faz concessões à fantasia:
– Se você é um jornalista de verdade, deve ser sério e dizer a verdade.
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