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sábado, 24 de abril de 2010
25 de abril de 2010 | N° 16316
PAULO SANT’ANA
Feliz ou infeliz
O tema hoje é o que mais almejam os seres humanos: a felicidade.
Já escrevi certa vez que os filósofos erram quando dizem que o supremo dever do homem é a busca da felicidade.
Mas, se os próprios filósofos declaram que a felicidade, por ser efêmera, não existe, como pode ser dever do homem procurar o que não existe?
Então, eu corrigi os filósofos: por revés, o dever do homem na Terra é buscar ser menos infeliz.
Aí que entra o célebre verso do Ataulfo Alves, o grande sambista: “Eu era feliz e não sabia”. Esse verso é uma adaptação do dito de filósofos, que sempre perquiriram que o homem muitas vezes não sabe que é feliz.
Eu iria mais adiante: o homem só é feliz quando não sabe que é feliz, o que no fim das contas nada significa.
E por outra parte pergunto: não é de todo pertinente que o homem também não saiba que é infeliz?
Eu, de minha parte, garanto que o homem só pode se sentir feliz quando, sem saber, ele é infeliz.
Ou de maneira mais radical: só um idiota pode se sentir feliz.
Só pode dizer que era feliz e não sabia quem venha posteriormente a ser tão infeliz que passe a invejar o estado anterior que ostentava.
“Eu era feliz e não sabia” quer dizer que não gozou da felicidade por desconhecer que com ela tratava.
E só agora, que é infeliz, tem consciência de que aquele estado que vivia era o de felicidade.
Ora, quem é feliz e não sabe que é feliz, por lógica, não é feliz.
Em suma, para ser feliz é preciso sentir-se que é feliz.
Já aquele que é infeliz e não sabe, por lógica, é feliz. É uma espécie de loucura delirante, a pessoa sofre e não sabe que sofre, por consequência não sente a dor e o infortúnio quando estes batem à sua porta, invadem seu domicílio e a submetem.
Ou seja, os que são infelizes e o desconhecem ou são muito fortes, ou estão loucos.
Pode-se dizer que são felizes.
É que no meio desses estados existem outros mil, como, por exemplo, o dos que são felizes tão somente por estarem sempre esperando a felicidade. É a felicidade da esperança, a felicidade dos crentes que têm a certeza de que Deus virá para chamá-los para o reino dos céus.
A única felicidade para eles consiste em esperar a felicidade. Isso é o que se chama de sonho.
O sonho é o lenitivo para o sofrimento, sofre-se, mas mergulhando no sonho o sofrimento passa a não doer, passa a não existir, sobrepujado pela esperança.
Além disso, o estado de felicidade é sempre cotejado com a felicidade ou a infelicidade alheia.
É impossível ser feliz se moram ao nosso lado ou convivem conosco pessoas que consideramos felizes.
A felicidade alheia, muitas vezes, é a causa única da nossa infelicidade.
Muitas vezes é impossível para nós encarar com naturalidade a felicidade alheia. Ela nos agride e não raro nos torna infelizes.
Por todas essas barafundas, não há nada mais difícil, senão impossível, do que ser feliz.
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