terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


CARLOS HEITOR CONY

No campo de centeio

RIO DE JANEIRO - Um jovem de 17 anos, de família rica, aluno de um colégio para a classe abastada, leva bomba em quase todas as matérias e tem de voltar para casa. Antes, questiona sua existência até então.

Conversa com um ex-professor, a irmã, a namorada, procurando um sentido para tudo o que viveu, e chega à conclusão de que não há conclusão, o jeito é voltar para a casa do pai, que é diretor de uma companhia.

Essa sinopse pode servir de base para um dos livros mais importantes do século 20 nos Estados Unidos: "Catcher in the Rye", "O Apanhador no Campo de Centeio", segundo a tradução publicada no Brasil.

Seu autor, J. D. Salinger, que morreu na semana passada, aos 91 anos, foi um personagem dele mesmo, não apenas do livro que lhe deu fama, mas de contos, entre os quais se destaca "Um Dia Perfeito para os Peixes-banana", sem dúvida uma das melhores histórias curtas de toda a literatura universal.

Salinger escreveu um livro para a juventude dos Estados Unidos em 1951, com tudo o que viria pela frente: guerras, a atração pela estrada, a geração de Elvis Presley e dos sem destino, o rock, a droga, a vida. O mais sensato é mesmo voltar para casa, porque o papai é diretor de uma companhia.

"Catcher in the Rye" marcou um tempo em todo o mundo. De uma forma ou de outra, todos os jovens daquela época se identificavam com Holden Caulfield, que, com tão pouca vida vivida, questionava todos os valores de uma civilização privilegiada no sentido material.

Salinger foi mesmo um personagem estranho. Detestava badalações, nunca concordou que suas histórias fossem filmadas, viveu recluso, não dava entrevistas, não se explicava. Lembra em alguns aspectos o paranaense Dalton Trevisan, não apenas no cotidiano, mas na obra.

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