terça-feira, 2 de fevereiro de 2010



02 de fevereiro de 2010 | N° 16234
LUÍS AUGUSTO FISCHER


GG50

Completou cinquenta anos esses dias meu primo e amigaço Geraldo Bueno Fischer. O leitor pode nem o conhecer, e talvez nunca venha a encontrá-lo; saiba que é uma pena, porque é uma daquelas criaturas que fazem a vida ter algum cabimento.

Ele brinca com idade desde que estava para completar os trinta, sempre repetindo o número lentamente, como um mantra de lamentação, ao mesmo tempo que pingava na voz e no jeito do corpo uma ironia discreta. Grande GG, parceiro de jogar botão, ex-futuro centroavante colorado, músico, professor, pai da Madá, do Ernesto e do Érico, artista plástico temporariamente fora de ação, alma grande. Mais 50 pra ti, meu!

Escrevo o parágrafo acima e paro um pouco. Não será que o leitor já abandonou o texto, ao constatar que nada tinha que ver com um sentimento tão privado assim e com um Geraldo que nem conhece? Pode ser, e neste caso eu não estou mais falando com ele, e sim com o senhor, que é mais tolerante, ou que talvez tenha já cruzado com o GG, caso que seria excelente, como já disse.

Mas bem, ficamos pelo menos eu e o senhor agora, o senhor e eu, e já é algo essa comunicação. Mas de que se trata, então? Se eu sei do risco de perder o leitor, por que mantive o primeiro parágrafo (para além de deixá-lo como homenagem justa ao Geraldo)?

É que eu aprendi muita coisa lendo as crônicas do Nelson Rodrigues. Posso mesmo dizer que sou especialista no tema, escrevi sobre ele, frequentei miudamente aquelas centenas de páginas, que ainda hoje repasso com grande prazer e ganho.

E uma das coisas que aprendi lá foi a seguinte: não se adia um abraço. Pensou em dar um abraço naquela figura que cruzou teu caminho? Vai lá e abraça. Pode nem ser físico o lance; pode ser internético, por exemplo, porque um carinho virtual ainda assim é carinho.

E um abraço não se adia porque o tempo passa, barato leitor que me acompanha até este terceiro parágrafo. O tempo passa, Tempus fugit, se diz em latim, e a gente depois pode nem ter outra chance.

Já outro sábio, Jorge Luis Borges, que também leio que não paro mais, uma vez escreveu um continho, que talvez nem seja conto, Delia Elena San Marco, que diz a mesma coisa por um outro ângulo, bem outro: diz ele que nós damos adeus porque nos supomos imortais.

A gente diz tchau e cruza a rua, um rio de carros se interpõe entre nós, mas fica implícita a certeza de que noutra hora o encontro vai ser refazer, aquela mesma figura vai se materializar de novo diante de nós: “Hoje brincamos de nos separar mas nos veremos amanhã”. Por um lado e pelo outro, vai um abraço para o Geraldo.

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