segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010



01 de fevereiro de 2010 | N° 16233
PAULO SANT’ANA


O problema é “nosso”

Está arrancando aplausos da sociedade a entrevista publicada sábado passado em Zero Hora com o tenente-coronel Sérgio Lemos Simões, comandante do 11º BPM.

Nesta quadra que vivemos de insegurança, qualquer autoridade que surja pregando que se prendam os criminosos faz sucesso.

Pouco tempo atrás, surgiu aqui entre nós um secretário da Segurança e um comandante da Brigada Militar pregando que se prenda e arrebente: foram ovacionados pela torcida.

A torcida quer ver sangue, quer todos os criminosos na cadeia, brada contra a impunidade.

E eu me incluo na torcida, quero declarar que pretendo que todos os criminosos sejam postos na cadeia. Não dá mais para vê-los soltos e impunes pelas ruas, cometendo crimes e atacando os cidadãos.

Quero dizer, portanto, que como toda a sociedade, estou ao lado do que disse o tenente-coronel, tem que prender e manter presos todos os criminosos.

Não é qualquer dia que um jornal consegue uma entrevista de um comandante de batalhão da Brigada Militar declarando que se sente inseguro. Logo se pensa fácil: se o tenente-coronel está inseguro, imagine a população.

Li atentamente a entrevista. A bem da verdade, a única coisa que ela contém de novo é que dessa vez não é um cidadão que clama contra a impunidade, é um agente público de importância nos órgãos de segurança.

O entrevistado recorre a um refrão utilizadíssimo: a polícia prende e a Justiça solta.

Até aí nada de novo, quem tem de prender é a polícia e só quem pode soltar é a Justiça.

A entrevista teria o seu ápice existencial quando o repórter Marcelo Gonzatto perguntou em que local seriam depositados os milhares de presos que em última análise o tenente-coronel quer ver atrás das grades.

Resposta do coronel: “Não é problema meu, não é problema do cidadão, não é problema do teu pai e da tua mãe, que pagam impostos”.

Só nisso, por sinal o principal, é que discordo do coronel. É um problema dele, sim, a falta de presídios, é um problema meu, é um problema dos pais e das mães que pagam impostos, é um problema de todos, é um problema nosso.

O coronel quis dizer que este é um problema só dos legisladores e da Justiça. Mas de quem são os legisladores e a Justiça? São nossos.

Então o problema é nosso.

Mas a entrevista do coronel tem um mérito: alerta, sem definir isso com palavras, mas dá a entender que é preciso construir presídios, caso contrário a insegurança nas ruas crescerá

Mas há 38 anos que brado que tem de construir presídios, no rádio, na televisão e no jornal. E ninguém me deu bola.

Espero que deem bola para o coronel.

O problema não é criminal: é penitenciário.

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