sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


Jaime Cimenti

Clarice Lispector, leitores e leituras

Clarice Lispector faleceu aos 57 anos em 1977. Ao contrário do que acontece com muitos escritores no Brasil, seus livros nunca foram enterrados junto com ela e seguem por aí, fascinando leitores brasileiros e estrangeiros.

Os julgamentos do tempo e dos leitores, os que mais interessam, são favoráveis à Clarice e a crítica nacional e estrangeira já a consagrou como uma das grandes autoras do século XX.

Clarice Lispector na cabeceira/Clarice Lispector, antologia organizada pela doutora em Letras Teresa Montero apresenta vinte e duas narrativas, com apresentações de grandes nomes de nossa cultura, como Luis Fernando Verissimo, Affonso Romano de Sant’Anna, Carla Camurati, Fernanda Torres, José Castello, Lya Luft, Marina Colasanti, Mônica Waldvogel e Rubem Fonseca, entre outros. Verissimo fala do convívio de seus pais, Erico e Mafalda, com Clarice na década de 1950.

Fernanda Torres preferiu silenciar diante do conto A quinta história; entendo que qualquer comentário seria obsoleto. Os vinte e dois contos do volume foram selecionados a partir de cada livro de contos de Clarice: Laços de família (1960), A legião estrangeira (1964), Felicidade Clandestina ( 1971), A via crucis do corpo (1974), Onde estivestes de noite ( 1974) e A bela e a fera (1979).

Claire Williams, especialista em literatura luso-brasileira da Universidade de Oxford, sobre o conto O ovo e a galinha, escreveu: “é um conto em que se descobre algo novo em cada leitor, em que se perde. Nunca o entendo, mas não é propriamente para entender. Se lê com os sentidos, mas não tem um sentido propriamente dito”.

Os leitores que escolheram os textos, acima de tudo, em seus relatos, mostram o quanto as palavras de Clarice Lispector têm repercutido em suas vidas. É bem como a escritora dizia: viver ultrapassa todo o entendimento e o importante é, às vezes, apenas tocar, pois o que tocamos pode florescer e outros podem pegar com as mãos.

Clarice também disse que escreveu livros que fizeram muitas pessoas amá-la de longe. Esta coletânea de contos, envolvendo algumas pessoas que conviveram pessoalmente com a escritora, mostra como a palavra pode ser transformadora e como pode ter muitos significados. Alceu Amoroso Lima ao ler O Lustre(1946) escreveu: “Ninguém escreve como ela.

Ela não escreve como ninguém.” Clarice escreveu romances, crônicas, histórias infantis, mas, sem dúvida, com seus contos de linguagem insólita e criativa, é que ficou ainda mais perto dos leitores de muitas gerações. Com 256 páginas, R$ 32,00, Editora Rocco, telefone (21) 3525-2000.

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