domingo, 6 de dezembro de 2009


ELIANE CANTANHÊDE

Homem-bomba

BRASÍLIA - Durval Barbosa, que era policial, virou braço direito de Joaquim Roriz, bandeou-se para Arruda e virou o homem-bomba de Brasília, já fez o estrago que tinha de fazer. Implodiu o governo do DF, feriu gravemente o DEM e atingiu o PSDB, o PPS e o PMDB lulista com estilhaços. Só o PT-DF e Kassab se dão bem. Por ora.

Um novo homem-bomba tende a surgir a partir de agora: o próprio Arruda. Ele pode não ter vídeos, mas sabe de muita coisa do DEM, que quer enxotá-lo; do PSDB, que já o expulsou na época da violação do painel do Senado; e do PMDB, que ele ganhou de Roriz num gordo leilão. E também sabe de outros Estados, de uma penca de empresas e de métodos de arrecadação e distribuição de dinheiro em política.

O Arruda derrotado na crise do Senado tinha perspectiva, calou-se e recomeçou indo de casa em casa do DF até voltar pelo voto majoritário. Já o Arruda soterrado por panetones não tem esse horizonte a curto nem a longo prazo. Se insistir, vai acabar engrossando a fila de mortos-vivos da Câmara.

Perdido por um, perdido por mil. Aquele Arruda engoliu em seco. Este de hoje está livre para soltar os cachorros e, se for por uma questão de caráter e compostura, o passado não o recomenda. É capaz de tudo.

Além do cálculo político, o silêncio de Roriz, a reação inicialmente comportada do DEM, do PSDB, do PMDB, do PT e até Lula lavando as mãos foram pausa para pensar, ou melhor, para esperar e ver o que -e quem- havia mais por trás da história e das câmeras ocultas de Barbosa.

Sempre cabe mais um. O escândalo de Brasília é tenebroso, mas todos eles sabem que não deve ser muito diferente, só maior, do que acontece por aí afora.

O que faz toda a diferença é um vice trapaceiro, como o de Yeda Crusius, ou um assessor de duas caras, como o de Arruda-Roriz. No fundo, a crise não vem da roubalheira, vem do homem-bomba que explode os pactos.
Arruda pode ser mais um.

elianec@uol.com.br

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