quinta-feira, 10 de dezembro de 2009



10 de dezembro de 2009 | N° 16181
PAULO SANT’ANA


Fogo amigo

Leio que o governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, poderá não ser cassado, por contar com maioria ampla no seio da Câmara Distrital, devendo ser rejeitados os vários pedidos de impeachment.

Se isso acontecer, está feita a crise.

O cerne desta questão da corrupção filmada em Brasília é o seguinte: ela se tornou escandalosa por um detalhe.

Acontece que quem filmou as pessoas enchendo os bolsos, as malas e as meias de dinheiro foi exatamente o distribuidor do dinheiro.

Ou seja, quem comandou o esquema de mensalão em Brasília se tornou não só o denunciante como o filmador das cenas escabrosas.

Quem vai resistir a um fogo amigo desses? Todos recolhiam o dinheiro em segurança, jamais esperavam que estivessem sendo filmados pelo dono da casa.

Por isso, a prova se torna arrasadora.

O depoimento mais fatal contra os acusados é justamente o daquele ex-secretário de governo que recolhia as contribuições das empresas e as distribuía entre seus colegas e o próprio governador.

Impossível resistir a tanta evidência.

A delação premiada é uma arma devastadora contra qualquer autor de delito. Porque ela emerge exatamente das sombras íntimas da associação criminosa e é tão cheia de detalhes que arrasa qualquer tentativa de defesa dos acusados.

Todo mundo ia receber o mensalão na sala do secretário, e lá estava armada uma arapuca demolidora para os mensalistas.

Se não for cassado o governador, abrir-se-á a maior crise ética da história da política brasileira.

Ruy Castro reclama que a memória de Tom Jobim está sendo ultrajada. E justamente por ter sido dado seu nome ao aeroporto do Galeão.

As notícias saem assim nos jornais: “Tom Jobim atrasa 20 voos”, “Tom Jobim caindo aos pedaços”, “Cocaína apreendida no Tom Jobim”.

O risco de se colocarem nomes de pessoas que foram vultos em logradouros é este: quando o logradouro é degradado, degrada-se o nome do homenageado.

Uma vez, um jornal aqui de Porto Alegre botou a seguinte manchete: “Otávio Rocha sujo de fezes”, referindo-se ao nosso viaduto.

Em compensação, na alusão ao parque, anos atrás saiu o seguinte título no jornal: “Maurício Sirotsky florido está em festa”.

Despede-se hoje da RBS o vice-presidente Afonso Antunes da Motta, que se afasta da nossa empresa para dar curso a uma irresistível e atávica vocação política que o assalta: será candidato a deputado federal pelo PDT, arrancando sua campanha desde Alegrete, Rosário, Uruguaiana, Livramento e São Gabriel, estendendo-se por diversos outros municípios do Rio Grande.

Afonso Motta, por sua cordialidade e competência, deixa grandes amigos na RBS e nos círculos que sua atuação tocou.

Eu gostaria de ter forças para comparecer no jantar de despedida.

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