Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
07 de dezembro de 2009 | N° 16178
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Fronteiras
Vizinhos mantêm uma relação precária, sempre à beira do desastre.
Isso acontece entre pessoas, entre nações. Os brasileiros e los hermanos platinos, por exemplo, vivem uma atávica e inerme desconfiança, fruto das guerras pregressas ou, mais simplesmente, das idiossincrasias bairristas.
Nada disso sucede, entretanto entre dois escritores em particular: um, brasileiro do Sul; outro, uruguaio. Ambos contistas, ambos reconhecidos e festejados, mercê de seus absolutos talentos. Fala-se, aqui, de Sergio Faraco e Mario Arregui.
O primeiro, em plena e feliz atividade; o segundo, falecido. Em função das traduções dos contos de Arregui para a língua portuguesa, entretiveram uma bela correspondência entre julho de 1981 e fevereiro de 1985, e que sai agora publicada pela editora L&PM, sob o conotativo título de Diálogos sem Fronteira.
Os temas das cartas não se limitam às traduções que Faraco fez dos contos de Arregui mas, a partir desse mote, pervagam pelos caminhos da política, da economia, do futebol, da filosofia e pelo preço do gado vacum, que Arregui, produtor pecuário, desejava vender no Brasil.
O escritor oriental, num à vontade apenas admissível entre bons amigos, nomeia Faraco como seu empresário para tal fim, numa espécie de brinde surrealista ao leitor que, encantado, acompanha essa correspondência como a leitura de uma summa dos teres e haveres que nos distinguem, aqui no Sul, mas não só: é possível perceber-se que há, nessa troca de cartas, a construção de uma completa poética do conto, elaborada a quatro mãos e dois encantos pelo gênero.
É, também, um encontro de duas personalidades fortes que, não raro, dissentem, mas que se respeitam e, porque não, estimam-se com pleno e sincero afeto.
Essa reflexão leva-nos ao outro tema, este cifrado, que é o valor da amizade, capaz de suprir as lacunas dos silêncios e alterar o sentido – sempre para melhor – de uma ou outra frase mais áspera.
Este livro não é apenas o registro de cartas que em bom momento surgem em edição brasileira [porque já existe uma edição uruguaia]: é, em primeiro lugar, a afirmação de que sim, é possível um contato frutuoso entre os habitantes da América Latina, herdeiros de um montante comum e respeitabilíssimo e que sim, a amizade é possível, a despeito das distâncias geográficas e culturais. Não é pouco, em nossos dias de desumana ausência de compaixão.
Leiam este livro como quem lê um bom romance; comprem-no. Deem-no neste iminente Natal, período em que se instigam as virtudes da solidariedade.
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