sábado, 5 de dezembro de 2009



06 de dezembro de 2009 | N° 16177
PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES - INTERINO


Que década!

Já estão circulando as listas com os principais fatos da primeira década do século 21. Me lembro de algumas coisas da primeira década do século 20, mas deste século não sei quase nada. Assim, de cabeça, lembro que em 1901 Gulielmo Marconi captou os primeiros sinais de rádio.

Em 1903, era fundado o Grêmio. Em 1906, nascia Mario Quintana. O Inter nasceu três anos depois. Aí por 1905, Einstein discorreu pela primeira vez sobre a teoria da relatividade. Em 1907 ou 1908, Picasso pintava Les Demoiselles d’Avignon. O primeiro Ford T, que é de fato o primeiro carro, saiu em 1908, o ano de nascimento de Guimarães Rosa. Tem tanta coisa. Faz tanto tempo, que não lembro tudo.

Os primeiros anos de um século geralmente são fecundos. Mas é difícil montar a lista do século 21. Tem-se a sensação, talvez porque somos do século passado, que este é um século de repetições. Não vou citar tragédias e barbáries, como o tsunami e o 11 de setembro, porque estou falando de gente, descobertas, inovações.

Nem o Google, que parece tão recente, é deste século. A Gisele Bündchen é do século 20. Os clips coloridos também. É difícil que alguém, nesta primeira década – que ainda tem um ano para terminar – possa competir com um Marconi, um Ford, um Picasso. Quem pode competir com um Grêmio? Um Flamengo, talvez, se o Herrera não jogar neste domingo, mas o Flamengo também é do século passado.

Que clube pode surgir nesta primeira década para se igualar ao Internacional? Outro Grêmio? Que invento será maior do que o carro e o rádio? Claro que alguém que nasceu ou vai nascer até o final de 2010 poderá, daqui a algumas décadas, competir com um Quintana ou um Picasso. Espero estar aqui para conferir.

O certo é que quase tudo deste início de século é retrô, com exceção do YouTube e do Obama. Na tecnologia, temos o Kindle, o primeiro livro eletrônico. Vi um Kindle dia desses pela primeira vez nas mãos do colega Renato Santos, aqui na Redação. É interessante. Uma vantagem é que não tem orelhas com aquelas apresentações laudatórias, geralmente escritas pelo próprio autor. Já é uma grande virtude.

Tem o Twitter, mas o Twitter é uma extensão do telégrafo, e o telégrafo é de meados do século 19, se não me engano. Na ciência, temos as pesquisas com as células-tronco. Só que alguém me disse que os experimentos começaram no início do século 20.

Que artista estourou nestes primeiros anos do século? O Mick Jagger? É do século 19. O Bono? Um cantor sertanejo, uma cantora, um sapateador (já não se fazem mais sapateadores como antigamente), um filme, uma música... Quem?

Até na gastronomia tudo é retrô. A última grande invenção gastronômica foi a comida molecular do espanhol Ferran Adrià. Nem na corrupção temos inovação. É um começo de século frustrante. Dizem que a grande novidade desta década é a aceleração, a rapidez, o instantâneo, a interação, são as trocas, os intercâmbios virtuais, mas também isso tudo vem do século 20.

Para mim, a grande novidade destes primeiros anos – a não ser que 2010 surpreenda – é a fórmula de pontos corridos do Brasileirão. A fórmula nos brinda com essa final espetacular no Maracanã. Pensei que os pontos corridos fossem de um sistema usado já no século passado no Brasil. Não, é de 2003. Isso, sim, é inovação.

Os colorados podem não gostar, mas os gremistas gostam muito. Não dá pra contentar todo mundo. Tem gente do século passado que até hoje não gosta das Demoiselles d’Avignon do Picasso.

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