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sábado, 3 de outubro de 2009
03 de outubro de 2009 | N° 16113
CLÁUDIA LAITANO
Crime e castigo
Em uma noite do verão de 1969, um bando de malucos liderado por Charles Manson – que se considerava a reencarnação de Cristo e achava que os Beatles falavam com ele através de suas músicas – invadiu a casa do cineasta Roman Polanski, em Los Angeles, matando a mulher dele, grávida de oito meses, e mais quatro amigos do casal.
O grupo de cinco pessoas foi sentenciado à morte em 1971, mas com a mudança nas leis penais da Califórnia, em 1972, a pena foi alterada para prisão perpétua. Manson, hoje com 75 anos, fez várias tentativas para conseguir a liberdade condicional – a última, negada novamente, foi em 2007. Susan Atkins, uma das jovens que participou do massacre, morreu na prisão na semana passada, aos 61 anos, depois de ter 17 pedidos de liberdade condicional negados.
Essa não foi a primeira tragédia na vida de Polanski. O diretor, judeu franco-polonês, tinha seis anos quando estourou a II Guerra. Separado dos pais, o menino passou boa parte da infância vagando pela Europa. A mãe foi morta pelos nazistas.
O pai conseguiu sobreviver, mas só o reencontrou após o fim da guerra. Parte dessa dolorosa experiência é retratada no filme O Pianista, um dos mais tocantes de sua carreira, que narra a história real de um músico judeu que, contra todas as circunstâncias, conseguiu permanecer vivo enquanto o mundo literalmente desabava ao seu redor.
O Pianista filia-se à linhagem de filmes que cumprem a inestimável função de impedir que o Holocausto seja esquecido, ou minimizado, pela posteridade. É uma história que nunca deixará de ser contada, mesmo quando não houver mais vítimas como Polanski para lembrá-la ou criminosos de guerra para serem punidos.
O tempo, definitivamente, não fecha todas as feridas, não dissolve todos os males, não apaga todos os erros. Eles continuam ali, à espera de justiça, lembremos deles ou não – e Polanski, mais do que ninguém, sabe disso.
Preso esta semana na Suíça por um estupro cometido nos Estados Unidos há 32 anos, o diretor cometeu um erro e vai ter que responder por ele. Como, idealmente, deveria acontecer com todas as pessoas que erram – famosas ou não.
A versão da vítima, que tinha 13 anos na época, não deixa dúvidas: o sexo não foi consensual, envolveu violência e drogas. É compreensível que ela tenha preferido retirar a queixa – aos 45 anos, mãe de três filhos, não tem interesse em mexer mais uma vez nesta ferida, e está no direito dela. O que não dá para entender é por que tantos cineastas famosos, atores e até o ministro da Cultura da França foram tão rápidos em comprar a versão de inocência de Polanski, exigindo a sua libertação imediata.
Um dos muitos amigos de Polanski, o escritor Robert Harris, escreveu um artigo no Times perguntando qual o sentido de prendê-lo agora, passado tanto tempo. É verdade que as circunstâncias da prisão são estranhas e que o moralismo americano sempre desperta desconfiança, mas se eu tivesse que responder a essa pergunta diria que se esse raro caso de punição tardia tiver algum sentido pedagógico e servir para provocar alguma reflexão a respeito da diferença entre sexo consentido e violência ou sobre a responsabilidade de um adulto que faz sexo com uma criança, diria que a prisão de Polanski faz todo o sentido.
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