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sábado, 3 de outubro de 2009
03 de outubro de 2009 | N° 16113
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES
Bagre, 70 anos
Era uma manhã de sol, aquele 3 de outubro de 1939, lembro como se fosse hoje e olhem que eu só ia fazer cinco anos exatos um mês e um dia depois. Morávamos em Uruguaiana, num chalé de madeira com pátio de esquina na frente da casa de seu Amado Carreiro e dona Ubaldina, gente rica para o nosso padrão da época.
Naquele dia, depois do café da manhã (café preto com farinha de mandioca e uma bolacha tipo vovó sentada), a nossa irmã Irlê levou os dois irmãozinhos (eu e o João, um ano mais moço) para a casa da tia Chininha, “porque a mãe ia ganhar nenê”. A dona Mocita já tinha oito filhos. O Darci, o mais velho, um adolescente bonito e atleta do futebol, do salto com vara e grande nadador.
A Ziláh era uma indiazinha séria e compenetrada. A Irlê era irrequieta, sempre arrumando um jeito de ganhar dinheiro: até as laranjas do pátio ela vendeu para comprar uns tênis para o João, guri que na hierarquia da casa era o “seu filho” (eu era “filho da Ziláh”, a irmã que me cuidava). O irmãozinho que ia nascer seria “filho da Flora”, a irmã que vinha a seguir, uma guria magra e alta, de pernas finas e cabelo que parecia uma ramada.
Depois vinha o Aldo, indiozinho sério e já muito responsável, de duro cabelo ouriçado. Depois, a Elida, loirinha, frágil e protegida da mãe. Aí, sim, vinha a dupla inseparável, eu e o João, eu meio pretusco e o João Batista um alemãozinho melado de olhos verdes. (Depois do Bagre ainda nasceria o Julio César, vulgo Bilico, vulgo Gozador).
Então a Léla (apelido da Irlê) nos levou para a casa da tia Chininha e nos entregou aos cuidados da prima Luci. A Luci nos deu pão com mel, coisa que não conhecíamos. Esganados, nos atracamos na iguaria e lambuzamos as mãos e a cara, e a Luci disse com graça: “Quem nunca come mel quando come se enlambuza...” No meio da manhã passou um avião grande, que era uma novidade, e eu disse ao João: “Olha aí o avião que trouxe o nosso irmãozinho!”.
Todos os partos da dona Mocita foram em casa, com uma parteira. No fim do dia a Uga (uma negra aça que era empregada doméstica da dona Mocita) veio nos buscar para conhecermos o novo membro da família. A dona Mocita achava que seria o seu último filho e escolheu o nome Euclides para homenagear o marido.
Mas aí, uma coisa engraçada: quando ela engravidou para ter o João ela queria uma guriazinha. Fez todo o enxoval bordado com o nome de Ivonir. Veio um guri e o flamante enxoval ficou intocado. Quando engravidou de novo, arrumou tudo, pensando: “Agora, sim, vem uma guriazinha bonitinha!”. E nasceu o Bagre!
Ele ainda não tinha o apelido, que só ganharia em São Borja, uns quatro anos mais tarde, porque chorava muito com a grande boca aberta, apelido dado pelo João que era o seu algoz e a sua vítima predileta. Assim veio ao mundo Euclides Fagundes Filho, um dos maiores orgulhos da família, o mais completo artista de todos nós, pai de filhos maravilhosos. Feliz aniversário, Bagre!
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