quinta-feira, 9 de julho de 2009



09 de julho de 2009
N° 16025 - L.F. VERISSIMO


Realpolitiques

Consolemos-nos. O parlamento inglês – que, afinal, é o pai de todos os parlamentos – também anda às voltas com escândalos. E escândalos parecidos com os do nosso Congresso: despesas escondidas, favorecimentos descabidos e outras lambuzeiras com o dinheiro público.

Levando-se em conta a tradição de austeridade da política inglesa, com a exceção de um ou outro deslize sexual, pode-se até dizer que os escândalos do parlamento inglês são piores do que os nossos. Pelo menos temos a desculpa de não sermos ingleses.

Lula não usa a palavra, mas invoca a “realpolitik” para constranger o PT a apoiar o Sarney, que se tornou, com um certo exagero, símbolo de todos os maus hábitos do nosso Congresso. “Realpolitik” é uma expressão alemã do século 19 com vários significados, de realismo político e pragmatismo até maquiavelismo do mais cínico.

No caso do Lula, que só se preocupa em manter alianças que garantam o funcionamento deste governo e a eleição do próximo, ela significa uma espécie de maquiavelismo de arrabalde. Nada muito grave, se bem que nada muito inspirador também. De qualquer jeito, foi doloroso ver o Mercadante anunciando a concordância do PT com as ordens do chefe sem acreditar numa palavra do que estava dizendo.

Estou escrevendo isto no começo da semana, é possível que o próprio Sarney já tenha se constrangido o suficiente para renunciar ao cargo. Se está sendo injustiçado ou vítima de um golpe in camera, fica para se ver depois. O que ele deve fazer agora é poupar o que resta da sua biografia.

Primitivos

Em Honduras, houve um golpe militar à antiga, que deve ter feito bater mais forte o coração de alguns nostálgicos. Lá também se invoca uma forma de “realpolitik” como justificativa, no caso a necessidade de prevenir um novo Hugo Chávez em formação. “Honduras” quer dizer “funduras”.

Foram buscar lá no fundo da história latino-americana o modelo mais primitivo para troca de governos. O golpe hondurenho é uma versão grosseira de uma história conhecida, a da reação do conservadorismo a qualquer ameaça ao seu poder, e cujo protótipo é a reação da oligarquia mexicana à eleição do índio zapoteca Benito Juárez à presidência em 1858.

A elite mexicana exagerou: para substituir o índio, foi buscar um príncipe, o arquiduque Maximiliano, da Áustria, financiado por Napoleão III.

Desde então, nunca se chegou mais a tanto, mas a reação se repete através dos anos onde quer que um “índio” chegue ao poder. Sem imperadores importados, ultimamente sem militares golpistas, ainda é a mesma velha história.

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