quarta-feira, 8 de julho de 2009



08 de julho de 2009
N° 16024 - PAULO SANT’ANA


O vinho

Um amigo meu, casado, engenheiro, foi jantar com outra mulher num restaurante fino da cidade.

Era uma bela loira a aventura adulterina do meu amigo.

Dois dias depois, a esposa do meu amigo chamou-o a um canto do lar conjugal: “Adolfo, foste visto jantando anteontem no Restaurante Tal com uma linda moça. O que tens a me dizer?”.

Meu amigo empalideceu, mas tentou se recuperar: “Era uma colega engenheira de uma firma que tem consórcio conosco e a única ocasião que ela dispunha para tratar da nossa transação imobiliária era aquela noite. Por isso travamos um jantar profissional”.

A esposa do meu amigo retrucou rapidamente: “Tudo bem, mas e o... vinho?”. Nocaute.

Uma frase que vem se ajuntar oportunissimamente à campanha que a RBS vem realizando sobre a droga maldita, de autoria do neurologista Clovis Francesconi: “Quem vai tirar a primeira pedra?’’.

Sei agora por que Deus decreta a morte de pessoas queridas. Ele quer testar a capacidade de suportar a dor por parte dos parentes e amigos da pessoa que morre.

Se alguém consegue sobreviver à morte de um filho, de um pai, de uma mãe ou de qualquer pessoa amada, então pode declarar que conheceu a face mais dolorosa da vida, pode declarar que é enfim uma pessoa humana apta a todos os embates que ainda poderão advir.

Cheguei a um ponto da existência em que me interessam menos as mulheres do que os doces.

Eu me apaixono cada vez mais pela goiabada cascão, pelo rei alberto, pelos pastéis de santa clara, pelos ovos-moles, sem falar, é claro, nos meus dois engates históricos: o sagu com creme e o papo de anjo.

Uma vez escrevi aqui nesta coluna que gosto tanto de sagu que na mesa do jantar tomo vinho Sabiá e no sagu uso o vinho Châteaunef-du-Pape.

Nos doces de Pelotas não quero nem falar. Depois de um casamento de 10 anos com o ninho, separei-me definitivamente dele porque me apaixonei pelas trouxinhas, mas há tempo ando traindo-as com os olhos de sogra.

Em Pelotas, deveriam expulsar todos os habitantes que fossem diabéticos. Porque ser diabético e morar em Pelotas é como dormir ao lado de um vulcão. E, finalmente uma declaração de princípios: não me venham jamais impingir-me doces dietéticos.

Doce tem de ter açúcar puro. Bastante açúcar como no doce de coco e no – está bem, concedo em me interessar por mulheres – no divinal baba de moça.

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