
04 de julho de 2009
N° 16020 - ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES
João Cruzeira não morreu
Pouca gente sabe ou sequer imagina que eu sempre gostei de teatro. E menos ainda que já escrevi um roteiro e encenei uma peça de minha autoria nos anos 70.
Desde que cheguei a Porto Alegre, nos idos de 1954, tive o privilégio de conviver com artistas de todo o tipo, aqui reunidos por acaso ou por destino, numa época de efervescência cultural.
Nessa turma tinha dois alegretenses, o Paulo José e o Paulo César Pereio, que se tornaram astros de primeira grandeza no cenário teatral brasileiro, mas também tínhamos o Walmor Chagas, Mário de Almeida, Carlos Alberto Murtinho, Delci Perez e tantos outros. Assim, entre todas as minhas (muitas!) leituras da época, logo começaram a surgir roteiros de peças e filmes de gente tão diversa quanto Sófocles e Sartre, Fellini e Luchino Visconti...
Até numa montagem de Hamlet eu fui o “segundo soldado”, bem compenetrado do meu papel de estar numa peça de Shakespeare. Mas o que me me vinha cada vez mais à cabeça era a ideia de utilizar o teatro e a sua linguagem a serviço da nossa cultura gaúcha, já que eu também estava cada vez mais me aprofundando no estudo do folclore e da história e me envolvendo com o movimento tradicionalista.
Na época, já se falava em levar o movimento a todas as formas possíveis, muito além da música. A arte tem muitas formas de expressão, todas legítimas, e quanto mais artistas se engajam no movimento, melhor. Assim, foi meio que inevitável que eu me dedicasse a criar uma versão pessoal, um pouco para mostrar que era possível e um pouco pelo gosto mesmo.
E foi coisa bem linda ver uma história típicamente gaúcha encenada no teatro. A peça, João Cruzeira, é um drama no qual eu busquei retratar a atmosfera e as contradições de uma época do Rio Grande marcada pela violência e por uma revolução sangrenta e traumática: a Revolução de 93. João Cruzeira, matador e vítima ao mesmo tempo, vaga por uma terra devastada e cruel.
Por isso fico muito feliz e honrado de poder dizer aqui que o João Cruzeira vai voltar aos palcos em uma montagem do diretor Camilo de Lélis, premiado por vários trabalhos, e da também consagrada produtora Sandra Narciso.
João Cruzeira vai renascer com profundidade renovada e uma linguagem inovadora que é a marca do trabalho tanto do Camilo quanto da Sandra. Só me resta agradecer aos dois e esperar para assistir à nova montagem.
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