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quinta-feira, 11 de junho de 2009
11 de junho de 2009
N° 15997 - PAULO SANT’ANA
A brutal visão do cadáver
Porque eu sou um homem do povo, procuro viver as mesmas experiências do meu povo.
E com esse cabedal posso assegurar que não existem três coisas mais irritantes e detestáveis na vida do que:
1) espera de elevador,
2) espera de ônibus,
3) fila de banco.
Pior do que estas três coisas, só o casamento.
Ou a separação depois do casamento.
Um dos episódios mais impressionantes a que assisti nos últimos dias foi aquela cena colhida pela televisão num aeroporto brasileiro, logo após terem sido resgatados do mar os dois primeiros corpos do Airbus A330.
Uma senhora chorosa estava no aeroporto e era filha ou irmã ou esposa ou mãe de um dos desaparecidos no desastre.
Foi entrevistada. E disse, chorando, que não queria que fosse resgatado o corpo do seu ente querido.
Implorou que só o trouxessem na hipótese remota de que ainda estivesse vivo.
Ela ainda disse à reportagem da televisão que seria muito cruel que fosse se defrontar com o cadáver do seu parente direto.
E acrescentou que, antes de resgatarem do mar aquela pessoa que ela tanto adorara, que melhor fariam as autoridades e os agentes de salvamento e busca se “deixassem que ficasse repousando no oceano” aquele seu ser tão amado.
Surpreendente a reação dessa mulher. O que se conhece em circunstâncias normais é que os parentes de pessoas mortas em desastres de avião anseiem por recuperar os corpos de seus mortos e dar-lhes um enterro digno, em que possam despedir-se de seus seres caros e estimados nas cerimônias fúnebres.
Há, acredito que em todas as civilizações, um verdadeiro culto, além de rito, pelo sepultamento dos corpos. Em todas as civilizações, repito.
A primeira vez que vi no mundo – e particularmente no Brasil – que uma pessoa estivesse torcendo para que o corpo de seu parente não fosse resgatado do mar foi nesse caso.
Achei estranho, mas entendi a mulher que não queria mais ter contato com o parente direto (não informaram qual era o grau de parentesco entre o morto e a mulher entrevistada). Desejava ela ardentemente que os restos mortais daquela pessoa que tanto amava não fossem recuperados e restassem sepultados em local desconhecido do fundo do mar.
Visivelmente o resgate do corpo de seu parente lhe traria atrapalhação e embaraço profundamente constrangedores.
Fiquei curioso sobre se essa era também a opinião dos outros parentes daquele desaparecido cuja volta como cadáver era indesejada pela mulher.
Mas concedi razão àquela mulher. Porque é muito difícil lidar com a morte de pessoas que são muito aproximadas de nós.
E muitas vezes é mais serena a lembrança de dias felizes que passamos na vida com pessoas que amamos do que ter de arrastar por todo o restante da vida a recordação de um defunto inanimado e definitivamente banido do nosso convívio.
Por solidariedade àquela mulher, fiquei também desejando que seu parente não fosse encontrado.
Seria mais penoso para ela, seria menos sereno para ela, que fosse se encontrar com aquele ser amado sem vida. A morte é autora de fortes traumas, quanto mais eles possam ser atenuados, melhor.
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