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quarta-feira, 10 de junho de 2009
10 de junho de 2009
N° 15996 - DIANA CORSO
Amar é terapêutico
Lars é doido de pedra, não do tipo que quebra a casa ou enche o ambiente com seus fantasmas, ele é pétreo e não gosta de ser alterado. A história dele é sobre loucura, mas na verdade interessa-nos porque é uma também trama de amor. O filme, chamado A Garota Ideal (Lars and the Real Girl, direção de Craig Gillespie, EUA), é de 2007. Deve ter vindo de balsa para chegar somente agora.
Vou ser sucinta para não estragar a surpresa do filme que está em Bianca, a amada de Lars, da qual vou só dizer que não é uma namorada típica. Ela é basicamente uma criação do apaixonado, que praticamente ama sozinho.
Ele vê nela toda a perfeição que costumamos encontrar no outro, principalmente no momento inicial, da descoberta do amor. Lars tem um trauma de infância que o leva a temer pela vida da cunhada que está grávida. Sua mãe morreu de parto e ele, uma personalidade tão frágil, enlouquece com essa gestação. Porém, seu desequilíbrio se traduz num envolvimento com Bianca, que ele acredita ser uma missionária paralítica.
O fato cômico do filme é que Lars envolve toda sua pequena comunidade em seu delírio: todos acabam de alguma forma invejando a relação de Lars e de alguma forma apegando-se a Bianca.
Para tanto intervém uma terapeuta que aceita o jogo dele, e aconselha todos a fazerem o mesmo. Apesar das dificuldades, a família, colegas de trabalho e vizinhos conseguem participar ludicamente da fantasia amorosa de Lars.
Bianca, aos poucos, vai tornando-se objeto de afeição de todos, sendo que cada um faz com ela o que consegue. Fazem isso por solidariedade com o amante desvairado, mas também porque ela acaba despertando o aspecto delirante do amor que vive em todos nós.
Assim, às vésperas de mais um dia dos namorados, venho lembrar que a maior parte do amor está dentro da cabeça daquele que ama. De fato, não é assim tão simples, porque em geral há pelo menos dois: cada um a jogar suas expectativas e ideais em cima do outro e uma relação é o duelo dessas posições, das quais se espera que o amor saia ileso.
Para Lars amar foi terapêutico por contar com Bianca, com a presença real e silenciosa dela, para elaborar seu pânico de que a gestação da cunhada fosse matá-la. Então, poderíamos dizer que amar é louco, mas está a serviço de nossa saúde mental...
Talvez seja por isso que todos terminaram amando Bianca, pois ela é uma aposta no papel curativo do afeto, não somente o do amor sensual, mas também da solidariedade. Sem dúvida uma história de otimismo. É meio maluca, mas as coisas boas costumam ser meio doidas mesmo.
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