terça-feira, 9 de junho de 2009



09 de junho de 2009
N° 15995 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Discos pelo caminho

Depois que começou essa onda de baixar música, começou a morrer o disco compacto, o CD. Lojas de disco são cada vez mais raras, mais do que livrarias.

Quem gosta de música por haver se acostumado a comprar discos (os antigos-antigos, como o LP, ou os novos-antigos) faz o quê, hoje em dia? Eu por exemplo não sei e não quero aprender a esmagar milhares de canções num desses aparelhos que se ouve solitariamente. Mas eis que os CDs continuam sendo produzidos e fazendo aflorar o trabalho de artistas interessantes. Menciono quatro casos.

Frank Jorge, com seu Volume 3 (myspace.com/frankjorge), segue a trilha que a gente conhece de seu trabalho. Aliás, troço bom de ver é isso: um artista que tem umas ideias interessantes e gira em torno delas para extrair o melhor que pode. O Frank gosta de brincar nessa faixa de composição que vai entre a antiga mpb, a fração do rock chamada antigamente de Jovem Guarda e a ironia geral e ilimitada.

O resultado é sempre bom de ouvir, principalmente porque àquela mistura se soma, como ponto mais saliente na obra, uma veia cronística disposta a fotografar a vida trivial, mas vista pela lente deformadora daquilo que o Frank chama de crocância, uma leve picardia.

Vanessa Longoni, com A Mulher de Oslo, é outro papo. Uma intérprete inteligente, que não tem apenas uma boa voz e um produtor competente (mas tem os dois):

uma cantora dotada de sensibilidade para entender a alma do que canta, com um pé enterrado na tradição emepebista mais “roots”, mais ligada à matriz popular – por isso a interpretação tão linda dela para uma canção do Elomar –, e o outro captando no ar essa espécie de (por que não?) mpb mundial inteligente e agiornatta protagonizada por gente como Goran Bregovich, lá fora, ou Leo Maslíah, Nico Nicolaievski e Arthur de Faria, cá perto. Bom de ouvir que só vendo.

Richard Serraria, com Vila Brasil (vilabrasilcodigolivre.blogspot.com), segue, como o Frank, girando em torno de suas ideias conhecidas, e cada vez com mais ganhos.

É de acrescentar que ele sabe da serventia de ideias fixas, leitor do João Cabral que é, e por isso sua perseguição pelo som porto-alegrense, popular, sambístico, macumbeiro, samba-rockístico, faz sentido duradouro. Este trabalho atual é o que vai ser apreciado no projeto Unimúsica, da UFRGS, ainda neste ano.

E tem o bom e velho Júlio Reny (julioreny.com.br), puro rock, versão delicada, com seu A Primavera do Gato Amarelo. Uma coisa que gosto nele é que ele faz a sério aquelas declarações de amor e desamor, sem ironia, quase ao contrário do Frank. Isso significa que o Júlio é meio que o Roberto Carlos da área, mas sem a chatice e com roquenrou.

Nenhum comentário: