terça-feira, 2 de junho de 2009



02 de junho de 2009
N° 15988 - CLÁUDIO MORENO


Nossa guerra contra as drogas

Todas as civilizações antigas conheciam o álcool, o ópio e a maconha, empregados principalmente para fins religiosos ou medicinais.

O grego Heródoto, que visitou muitos povos diferentes em sua peregrinação, conta que os Citas, no funeral de um guerreiro, usavam varas e cobertores de lã para improvisar uma tenda em forma de cone, no chão da qual abriam uma cova circular, cheia de pedras aquecidas pelo fogo; entravam então todos quanto ali coubessem e jogavam grandes punhados de semente de cânabis sobre as pedras, enchendo o recinto com uma fumaça espessa, envolvente como um banho de vapor, que os deixava muito animados, a gritar alegremente o nome do falecido.

Plínio menciona uma planta indiana que, ministrada aos malfeitores, fazia com que eles, atormentados por visões demoníacas, confessassem todos seus crimes; afirma também que os reis da Pérsia, nas situações mais difíceis, ingeriam uma substância secreta que lhes dava firmeza de espírito e senso de justiça.

Na Grécia, o ópio, além de usado no tratamento das cólicas e da inflamação dos olhos, servia de base para o nepentes, bebida misteriosa que fazia esquecer momentaneamente a dor e as preocupações – a mesma que Helena, na Odisseia, oferece a seus convidados, no final do jantar, para dissipar a tristeza causada pela lembrança dos mortos na guerra de Troia.

A palavra grega para essas substâncias era pharmakon, que, não por acaso, pode ser traduzida ora como “remédio”, ora como “veneno”.

Em tudo, no entanto, os gregos eram moderados. Consideravam o vinho como um presente divino, destinado a fazer bem ao corpo e à mente, e não podiam imaginar, portanto, que alguém quisesse beber para perder a consciência; a ideia de que uma pessoa tivesse a necessidade de embriagar-se para viver seria, para eles, um desvirtuamento daquele alegre prazer que o homem compartilhava com os deuses.

Já não é assim. Mudaram as substâncias, é verdade, mas mudou ainda mais a nossa vida. Numa sociedade em que “ter” tornou-se mais importante (e mais fácil) do que “ser”, há os que procuram nos objetos a felicidade que deveriam encontrar dentro de si mesmos.

Essas são as vítimas potenciais da droga, pois o falso e fugaz prazer que ela produz, e talvez ainda mais a insatisfação que ela gera entre uma dose e outra, servem para disfarçar essa carência essencial, mais profunda, de que sofre todo o toxicômano.

É por isso que estamos perdendo esta guerra, e vamos continuar amargando derrotas enquanto não entendermos que o inimigo é muito mais poderoso que um simples produto da química. Não é a droga que faz o dependente; seu sofrimento precede a primeira dose que ele ainda não tomou.

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