Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 2 de junho de 2009
02 de junho de 2009
N° 15988 - PAULO SANT’ANA | ALEXANDRE BACH
A discussão certa
Não posso deixar de usar a nobreza deste espaço para reforçar a importância do engajamento de todos na campanha Crack, Nem Pensar. Estaremos investindo na construção do nosso futuro.
Não é possível olhar este mal, o crack, com a mesma complacência reservada ao uso da maconha e da cocaína. Um cigarro da erva muitas vezes é visto pela galera como companheiro de inocentes momentos de descontração (o que é um absurdo).
A cocaína sempre foi associada ao embalo e à agitação de festas glamourosas em noites permissivas (outro imenso absurdo). As duas são drogas que, com o passar do tempo, vão cobrar a conta do usuário. E ela será salgada.
Já o crack não manda conta. Destrói na hora. Não tem nada de inocente, muito menos de glamouroso. Não deixa pedra sobre pedra. Primeiro transforma usuário em bicho. Depois, joga toda a família no caos. Por fim, mata.
Com mais um agravante: coloca todos nós como vítimas do seu mal, mesmo os que passam longe da pedra maldita. Basta olhar os registros policiais e conferir o testemunho de policiais e promotores de Justiça. A imensa parte dos delitos das ruas da cidade (roubos de carro e de celulares, assaltos a pedestres e a motoristas e uma miudeza de crimes que nem mais são registrados) são cometidos em nome do sustento do vício.
Quem ainda não se convenceu de que a luta contra o crack deve ser travada por toda a sociedade, com todas as forças, precisa conhecer o calvário de Lucia Elaine Rossini da Silva, 46 anos, moradora de Sapiranga. O relato dela foi publicado no final de semana pelo Diário Gaúcho. Em janeiro de 2003, desesperada, impotente, acorrentou o filho, Deivid, então com 16 anos, pelo pé, num pilar da área de casa. Queria impedi-lo de continuar usando a droga, vício que mantinha desde os 14 anos.
A fotografia do menino atirado no chão, pé preso numa corrente feito bicho, ganhou os jornais. Foi a primeira imagem pública e em carne e osso do mal. A partir da história de Lucia, outras mães impotentes partiram para acorrentar e amarrar os filhos para deixá-los longe da droga.
Em torno de Deivid, houve uma mobilização, as autoridades cuidaram do caso, e o jovem começou um programa de recuperação. Chegou a trabalhar em uma fábrica de calçados, afastou-se do mal e passou a ter uma vida de carinho junto à mãe.
Por conta de erros cometidos quando fumava a pedra, acabou no Presídio Central. Retornou ao mundo da droga dentro da cadeia. Na última terça-feira, mais uma vez ele estava junto à mãe. Só que para pedir R$ 30 e torrá-los na pedra.
O drama de Lucia não tem fim. Deivid está há oito anos acorrentado ao crack, padecendo num mundo totalmente estranho a quem teve uma boa formação familiar e o conforto de um lar. Esse é outro mal da droga. Ela não é consumida no banheiro da festa, na solidão de um quarto.
Ela é tragada na rua, na sarjeta, debaixo da ponte da Avenida Ipiranga. É erro, então, achar que a droga é fumada apenas pelas pessoas que têm pouco recurso, já que seu uso está associado a um ambiente de pouco dinheiro. Bobagem. Ninguém usa a droga por viver na podridão. É o contrário. Acaba na podridão por usar o crack.
Como chegamos ao fundo do poço, é o momento de fazermos a discussão certa para sair da escuridão dele em direção à luz. Há algum tempo, quando o cineasta José Padilha lançou Tropa de Elite, boa parte de nossos pensadores preferiu discutir a questão do “Estado policialesco” e as atitudes do esquentadinho capitão Nascimento, suas arbitrariedades, sua mania de fazer justiça com as próprias mãos.
Uma pena. Perdemos a oportunidade de debater o que realmente o filme mostrava: que a própria sociedade, pelo menos uma parcela dela, sustenta o comércio das drogas na forma de consumo, e todos sofremos com a violência gerada pelo narcotráfico.
Agora, não temos nenhum capitão Nascimento para detonar. Ou então um filme para criticar. Temos a história de uma mãe, Lucia, e de um jovem, Deivid, que vivem num inferno.
Mais vida real, impossível.
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