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segunda-feira, 1 de junho de 2009
01 de junho de 2009
N° 15987 - SERGIO FARACO
Azarados e sortudos
Deu no jornal que o japonês Tsutomu Yamagushi, em 1945, foi vítima de um grande azar e, ao mesmo tempo, teve uma sorte não menor. Em 6 de agosto, ele estava em Hiroshima, a negócios, quando os americanos lançaram a bomba, matando 140 mil pessoas.
Yamagushi se encontrava a menos de três quilômetros do epicentro da explosão e, além de não morrer, no dia seguinte era tão boa sua saúde que pegou o trem de regresso a sua cidade, Nagasaki.
Ora, em Nagasaki os americanos logo lançaram outra bomba, matando 70 mil pessoas, e não é que Yamagushi novamente não morreu? E continua vivo, aos 93 anos. Está meio surdo, o que não quer dizer nada. Eu também estou, sem bombas.
O japonês tem uma parceira nessa monumental simultaneidade de acasos antitéticos.
Em 1912, a inglesa Violet Jessop embarcou no Titanic como camareira, e na madrugada de 14 para 15 de abril, quando o vapor foi a pique no Atlântico Norte, ela teve o privilégio de salvar-se num dos escassos salva-vidas. Morreram mais de 1,5 mil pessoas.
No curso da I Guerra, ela trabalhava como enfermeira no Britannic, navio-hospital que não era outro senão o Gigantic, irmão gêmeo do Titanic, requisitado à White Star Line pelo almirantado inglês e com apenas 351 dias de mar. Em 21 de novembro de 1916, na canal entre a costa da Grécia e a ilha de Kea, o Britannic abalroou uma mina marítima plantada na véspera por um submarino U-73, e começou a naufragar pela proa. Violet escapou num bote.
O navio, no entanto, continuava em movimento, uma tentativa do capitão de alcançar águas rasas, e seu bote e outros foram atraídos pelo repuxo das grandes hélices, em ação já na flor d’água. Última a saltar, a enfermeira ainda padeceu longa e perigosa submersão antes de ser resgatada por uma lancha. O Britannic afundou em 55 minutos. Morreram 28 pessoas, todas atingidas pelas hélices.
Não sou supersticioso, ao menos não muito, mas – e sem querer brincar com tragédias – desconfio de que os vizinhos do japonês, naqueles anos, não se sentiam garantidos: podiam ter o mesmo azar e não a mesma sorte. Na inglesa, uma linda mulher, eu mesmo gostaria de encostar, desde que no seco. Com ela eu não entraria nem na banheira.
P.S.: As memórias de Violet Jessop, Titanic Survivor, foram publicadas no Brasil com o título Sobrevivente no Titanic (Fortaleza: Brasil Tropical, 1998. 300p.), com introdução, edição e notas de John Maxtone-Graham. Que a editora me desculpe, mas a tradução não poderia ser pior.
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