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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
ROGER COHEN
O valor de uma viagem
Outro dia fui de metrô à Universidade Columbia, onde eu deveria dar uma palestra para celebrar o centenário de nascimento de Luigi Barzini, o maior dos jornalistas italianos do século 20.
Barzini passou parte de sua juventude nos EUA, e acho que essa experiência contribuiu para seu olhar de outsider sobre seu próprio país.
Seu livro, “The Italians”, ainda é o guia fundamental da Itália. O maravilhoso estilo e a teatralidade bombástica da vida italiana escondem um fundamental realismo, para não dizer pessimismo.
Sobre seus compatriotas, Barzini escreveu: “Eles acreditam que os males do homem não podem ser curados, apenas amenizados; que as catástrofes não podem ser evitadas, apenas mitigadas.
Os italianos preferem deslizar com elegância pela superfície da vida, sem mergulhar em suas profundezas”. Por essa razão, “é preciso que tudo brilhe: uma simples refeição, uma transação ordinária, um discurso desinteressante, uma capitulação covarde, todos precisam ser embelezados”.
Os insights de Barzini não lhe valeram o apreço de seu país, onde o centenário passou quase despercebido. Quanto ao pessimismo dos italianos, parece justificado. 2008 dá lugar a 2009 com bombas israelenses sobre a faixa de Gaza: a roda-viva de ódio na Terra Santa.
Mas um novo ano não é momento para sucumbirmos ao desânimo. Minha viagem do centro de Manhattan a Columbia foi sugestiva da imprevisibilidade da vida. Embarquei no trem errado e acabei no Harlem. Parti a pé para a universidade, refletindo sobre o fato de o Harlem ter deixado de representar uma ameaça e me perguntando que impacto a recessão pode ter sobre tudo isso.
Chegando à universidade, porém, descobri que eu viera no dia errado. Voltei ao metrô e comecei a bater papo com a mulher sentada ao meu lado.
Nada de extraordinário, mas foi um momento de civilidade nova-iorquina.
Conversamos sobre as pressões da vida na cidade, sobre as lojas esvaziadas e sobre as fugas da senhora em questão para encontrar paz em Martha’s Vineyard, a ilha na qual crescera. Se eu não tivesse iniciado essa viagem acidental no dia errado, não teria tido o prazer dessa conversa.
Isso me fez pensar em um de meus poemas favoritos, “Ithaca”, de Constantine Cavafy, sobre uma viagem cujo valor, em última análise, está em seu percurso irregular. “Ithaca lhe deu a viagem bela. Sem ela você nunca teria posto os pés na estrada.
Ela não tem nada mais a lhe dar.” O poema se encerra com: “E, se você a achar pobre, Ithaca não o terá enganado. Sábio, como você se tornou, com tanta experiência, Você já deve ter compreendido o que Ithaca significa”.
Quando refleti sobre esses versos, pareceu que Barzini e Cavafy estavam unidos pela ideia de que, sejam quais forem as decepções inevitáveis da vida, a beleza pode ser encontrada e criada na viagem. Não é uma reflexão sem mérito para ser levada para um novo ano.
Voltei para Columbia dois dias mais tarde. Fui no trem certo. Meu erro me proporcionara o prazer de dedicar mais tempo a Barzini. A conferência foi muito prazerosa.
Fez lembrar que, como escreveu Barzini, “a Itália é o refúgio atemporal do mundo, a margem de rio para a qual podemos nos retirar, afastando-nos da correnteza forte”.
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