segunda-feira, 12 de janeiro de 2009



12 de janeiro de 2009 | N° 15846
L.F. VERISSIMO


Wagners

Uma vez escrevi uma crônica estranhando a quantidade de jogadores chamados Donizetti no futebol brasileiro.

Na verdade eram só quatro ou cinco, mas por que quatro ou cinco jogadores brasileiros teriam o nome de um compositor italiano de óperas, e ao mesmo tempo? Se fosse o sobrenome, ainda haveria uma explicação, remota mas razoável.

A família Donizetti teria trazido da Itália para o Brasil, nos genes, uma incomum vocação para o futebol. Produziria jogadores de futebol como os Silva. Mas nenhum dos Donizettis tinha cara de italiano. E, em todos os casos, Donizetti era o primeiro nome, não o último. Qual seria a explicação?

Quando saiu a crônica, fui soterrado com explicações. O Donizetti homenageado não era o Gaetano, que escreveu Lucia de Lammermoor, burro, era um padre milagreiro com uma legião de seguidores no interior de São Paulo, e do qual eu nunca tinha ouvido falar. Os Donizettis eram Donizettis por devoção, não à ópera mas ao padre. Só eu é que não sabia.

Para evitar um vexame parecido, estou pesquisando todas as possíveis razões para tantos jogadores brasileiros, hoje, se chamarem Wagner. Não há, que eu tenha averiguado, nenhum padre Wagner fazendo milagres por aí.

Existe aquela velha predileção brasileira, bem representada no mundo do futebol (nos Wellingtons e nos Washingtons), pela letra “W”, que tinha até uma conotação de desobediência civil, já que o “W” não era permitido pelas leis do português.

“Wagner” seria apenas uma reafirmação dessa rebeldia ortográfica. Ou então voltamos à ópera. O Wagner evocado seria o compositor alemão mesmo, o das valquírias tetudas e cavaleiros teutônicos, que o Hitler gostava tanto. A quantidade de Wagners em campo poderia ser prenúncio de algum tipo de recrudescimento – do que, nem é bom pensar.

E o mistério mais intrigante de todos: que fim levaram os Donizettis?

Li que nos Estados Unidos tem gente se mobilizando para o bota-fora do Bush. No seu último dia de governo, ele seria corrido da Casa Branca, simbolicamente, a sapatadas.

O grupo, liderado por uma organização de veteranos da guerra do Iraque contra a guerra, se reuniria num ponto de Washington e marcharia sobre a sede do governo brandindo sapatos velhos, botas, havaianas, etc. que jogariam contra a cerca da Casa Branca, gritando, presumivelmente, “chô, chô” ou o equivalente em inglês.

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